A escritora Julia Baranski falou sobre o seu primeiro livro lançado, o “Histórias de Amor e de Morte”. Julia é mestranda em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana, graduada em Direito pela Universidade de São Paulo e Defensora Pública do Estado da Bahia.
Segundo o site da Editora Patua, este livro é uma obra repleta de cidades, de vivências, relato profundo maturado pelo tempo, pelo sofrimento de um país. O site diz ainda que Julia nos "molha a boca com o mar da Bahia, águas salgadas pelas lágrimas de África, enquanto nos convida à estrada urbana e mística que leva à terra estrangeira de uma intimidade feminina, familiar, onde fulgura a beleza de promessas como a que uma neta faz a sua avó: 'Se tivéssemos tido tempo (...) eu teria, Bunia, soltado todos os nós da sua vida'”.
Julia escreve um livro de "nós desatados, de afetos e campos abertos, de comprido fôlego, transitando entre opostos com a desenvoltura de alma larga dos que podem dar grandes saltos entre infâncias e séculos, entre Amor e Morte". Ela explica que esse é o seu primeiro livro de contos e que foi escrito durante a pandemia, no ano de 2020 e no início de 2021.
"A morte está muito presente em várias das narrativas, tanto a morte física quanto a morte simbólica de alguns dos personagens. Existe ainda a morte da vida que tínhamos antes e passamos a ter depois, a morte como uma renovação do que já passou para uma nova vida. E a vida para mim representa o amor. O livro trata dessa conexão entre amor e morte, vida e morte, entre nascimento e falecimento, como essas duas partes da nossa vida se juntam e formam quem somos", explicou.
Julia ressalta que a morte relatada no livro vai além da morte física. "Tem um conto em que eu trato da violência doméstica e familiar. Aquela mulher que sofre violência doméstica e não consegue se libertar daquele círculo vicioso que conhecemos, que é a agressão dentro do espaço doméstico”, afirmou.
Ainda conforme Julia, a violência doméstica aumentou muito durante a pandemia porque as mulheres precisaram ficar dentro dos seus lares junto com sua família. “Essa convivência aumentou exponencialmente o número de casos de violência sexual e familiar. Essa morte pode acarretar uma morte física, que é o feminicídio. Mas não é só o feminicídio que é uma forma de perda da identidade daquela mulher. Quando ela sofre cotidianamente violência psicológica, financeira e física que matam aos poucos aquela mulher independente que sempre foi também é um tipo de morte”, explica.
No livro de Julia ainda tem um conto em que ela fala sobre os indígenas onde aborda a morte social dessa comunidade. “Os índios são vistos de forma preconceituosa. Se vive na cidade não é índio, se possui traços de outras raças também não é. Negam a todo momento a raiz desses povos. É uma espécie de morte simbólica e não física”, disse.
Ela também aborda a morte física porque Julia fala sobre as vítimas da Covid-19. “Esse é um aspecto que eu trato de forma mais ampla no livro”, fala.
O livro está em pré-venda. O lançamento ainda não tem data prevista, já que Julia quer fazer algo presencial em Feira de Santana. "Farei o lançamento em uma live também já que tenho muitas pessoas espalhadas pelo país e ela consegue dar conta. Farei ainda em São Paulo, mas ainda não temos data".
Vida e morte
As pessoas tem muito medo de morrer, quando na verdade é a única certeza que se tem em vida. Questionada sobre se aborda esse tema em seu livro, Julia explica que os contos falam por si só. "Trato de muitos temas que são questões sociais que vivo no dia a dia da Defensoria Pública, como violência doméstica, sexual e obstétrica, discriminação racial e aos índios. Eu trato sobre os diversos tipos de mortes e ao enfatizar isso eu quero dizer que é o que está acontecendo agora e pode acontecer com você também", explica.
Lado escritora
A mestranda disse que sempre escreveu e começou a escrever na escrita pública, sem algo que fosse pessoal para ela, entre 2007 e 2008, quando entrou na faculdade de Direito em São Paulo. Julia chegou a receber alguns prêmios literários até mesmo internacionais, mas com o tempo precisou focar em outras responsabilidades. "Morei em várias cidades. Aí entrei no mestrado da Uefs em 2020 que me direcionou de novo para esse campo que eu sempre gostei e tinha deixado um pouco de lado. Acho que fiquei muito animada e comecei a escrever de novo", disse.
Julia disse que não acha fácil nem ser escritora e nem ser funcionária pública. "E conciliar os dois é muito difícil. Adoro ser Defensora, mas é uma profissão que exige bastante. Você tem que estar disponível para as pessoas. Tem que escrutar os problemas, os conflitos, os direitos violados o que demanda muito tempo", ressalta.
Já a escrita, para Julia, também demanda muito tempo. "As pessoas sempre falam que tem que ter inspiração, mas não é só inspiração, sentar e escrever. Você tem que ter uma programação e disciplina. Tem que ser dedicado e comprometido com o que você faz".
A defensora pública pretende seguir a carreira de escritora. "Estou realmente empenhada nisso. Eu voltei e não quero me distanciar novamente da Literatura. Tenho conhecido pessoas incríveis, conseguido penetrar nessa pequena nação de escritores e tenho gostado muito. A não ser que a vida pretenda me levar para outros caminhos eu pretendo continuar", fala.
Com informações do repórter Luiz Santos
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