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Cultura Crônica da semana

A deusa Atena e o sexo na Grécia antiga

Por Alberto Peixoto

21/11/2025 16h58
Por: Karoliny Dias Fonte: Alberto Peixoto
A Atena Varvakeion, cópia reduzida da Atena Partenos. Museu Arqueológico Nacional de Atenas
A Atena Varvakeion, cópia reduzida da Atena Partenos. Museu Arqueológico Nacional de Atenas

Atena, deusa da sabedoria, da guerra justa, das artes, da astúcia, epíteto de Palas, é um dos principais símbolos da cidade de Atenas, relacionada à cidadania, à educação dos meninos, à aplicação da justiça e ao exercício das funções políticas. Também era invocada em diversos rituais antes de decisões de guerra, quando as autoridades consultavam oráculos e ofereciam libações. O grande templo em sua honra, o Parthenon, construído no auge do domínio ateniense sobre o Mar Egeu, é considerado um dos mais belos monumentos da Antiguidade, sendo Patrimônio da Humanidade. A liturgia da cidade, no entanto, apresentava discrepâncias: em Atenas, não se faziam sacrifícios a nenhuma deusa e a única sacerdotisa tinha a função de organizar as festas.

Durante a maior parte de seu ciclo vital a mulher não gozava de liberdade, sendo o casamento arranjado em tenra idade, a procriação uma necessidade social, com a educação a cargo de tutores e a aceitação da infidelidade de maridos, pais e filhos um dado comum.

Sob o seu patronato, Atenas conta com um esplendor de cultura e civilização raros entre os homens; a cidade é a única em que a arte é reconhecida como um elemento fundamental da educação, a vida em comum é organizada segundo leis que proscrevem a corrupção, o lar é, de longe, o mais saudável e a educação cívica para a paz o seu elemento essencial. A função de Atena é assim definida: “ela faz com que a justiça, que está entre os deuses e os homens, declare e comande a guerra em defesa de uma cidade ou de um país em vez de individuais e por causa de um ato de maldade e malefício de homens” e também “é a defensora das artes e da beleza e da sabedoria e da justiça e do reconhecimento do bem e da vida”.

As normas sociais sobre sexualidade na Grécia Antiga eram bastante rígidas, principalmente para as mulheres, e isso era algo desejado pela maior parte dos cidadãos atenienses. Por isso, Atena, que não simboliza o amor, a beleza, o desejo e a paixão, mas, sim, o intelecto e a razão, é, para os atenienses, uma deusa diferente. Os relacionamentos entre mulheres e homens eram regulamentados pela sociedade. O corpo da mulher não lhe pertencia e, por isso mesmo, a sua sexualidade era controlada.

Para as mulheres da classe média, e principalmente para as do sexo privilegiado, a atuação pública resumia-se à tarefa de gerar filhos, especialmente homens, o que era considerado o seu maior dever. O ideal de vida dessas mulheres não inclui ser amante ou esposa de outros homens que não fossem o seu marido, mas ter um papel de procriadora e educadora dos filhos, sem qualquer forma de satisfação ou prazer sexual. A ausência de liberdade sexual para a mulher é sempre muito enfatizada e, talvez por isso, os homens suportam mais facilmente a presença de mulheres que, sim, podem satisfazer seu desejo de prazer sexual com outros homens, durante a sua vida sexual ativa.

Apesar de tudo, o clima da Grécia Antiga não era de repressão sexual, pois as relações sexuais entre os solteiros não eram condenadas. Bem pelo contrário, a maior parte dos homens tinha um amante jovem, um ephebo. O homem casado e o ephebo não mantinham, porém, a relação de amor que se vê na contemporaneidade, mas sim um relacionamento que estabelecia a passagem do primeiro para a velhice e do segundo para a idade adulta. Assim, a relação entre os dois homens era celebrada como uma educação, uma iniciação sexual e de modos de vida, que culminava com a prestação de homenagem ao deus do amor.

A cumplicidade amorosa e sexual entre os dois homens era muito bem vista, mas o mesmo não se podia afirmar do relacionamento da mulher da classe privilegiada com um jovem. O prazer da relação sexual, e não um sentimento, sempre estava em evidência. No entanto, a relação sexual para o homem não se resumia apenas a isso; a relação geralmente terminava com a penetração e a ejaculação, e se o homem recebia o prazer, isso não era um problema, ainda que não fosse o seu objetivo.

Não é de surpreender que os mitos em que Atena desempenha papel central ou em que é evidente a sua influência espiritual sejam tão diferentes dos que cruzam a vida de outras divindades. Não a encontramos em amores ou casamentos ou em qualquer outro tipo de ligação, nem a sua ira e a sua benevolência não correspondem a atos de vingança ou de recompensa, mas apenas ao seu interesse pelos atos humanos. Ela aparece nascida da cabeça de Zeus, não da terra ou do mar. Apenas nos grandes mitos da vida de Atenas seu culto e a sua veneração adquirem um cunho de relação simbiótica, e a construção do Parthenon, dedicado a um culto que reconhece o mais alto grau de civilização, é a única na qual Atena se torna, como muitas outras deusas, a deusa da educação, do lar, do Estado, da guerra e, no sentido mais amplo, da vida.

Por Alberto Peixoto

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