A fotografia faz parte de nosso dia a dia. Paisagens, pessoas, momentos inesquecíveis podem ser capturados a qualquer momento pela tela do celular ou da câmera fotográfica. A tecnologia está mudando a fotografia. O trabalho que antes era realizado apenas através de máquinas analógicas ou fotógrafos, hoje pode ser feito através de smartphones, tablets ou câmeras portáteis. Cada vez mais, a tecnologia está acessível a usuários leigos. Mas como ficou o trabalho do fotógrafo com esses avanços?
O fotógrafo Adalmário Araújo, fotógrafo há 48 anos, ressaltou que a fotografia é essencial para todos. “Comecei na época do monóculo. Depois migrei para a fotografia preto e branco e dele para o colorido. O ramo de fotografia e a fotografia é essencial na vida de todos. Para tudo hoje você depende da fotografia”, diz.
Com a pandemia, Adalmário diz que tudo ficou mais difícil. “Nós, que trabalhamos com eventos, casamentos, 15 anos, festinhas de escola, ficamos em uma situação difícil. Por outro lado, nos conscientizamos que tínhamos que migrar para algo que pudéssemos sobreviver. E foi isso que muitos fizeram”, diz.
O avanço da tecnologia, na opinião do fotógrafo, tanto ajudou como prejudicou quem está há muito tempo no ramo. “Os celulares estão evoluídos e você consegue tirar uma boa fotografia com sete celulares que você vê. Vamos tentando a cada dia mais aprimorar. Por outro lado, temos mais acesso materiais de qualidade. Antes era difícil se conseguir uma máquina fotográfica de qualidade por que era muito cara. Hoje elas estão disponíveis no mercado e com mais facilidade de compra com financiamento, por exemplo”.
Adalmário fazia as fotografias em festas como Micareta e São João, e entregava para seus clientes na porta. “Na Cidade Nova atuei muito assim. Esse tipo de trabalho desapareceu, mas temos acesso a fotografia impressa com qualidade, temos um material de primeira e fornecedores bons no Brasil. E assim vamos sobrevivendo”.
Com o fim da pandemia próximo, aos poucos as festas estão retornando e o objetivo da categoria é reconquistar aquilo que perderam durante esse período, diz Adalmário. Antes da pandemia ele era muito requisitado. Festas como jantares de família, Crisma, Primeira Eucaristia, formaturas, eram o seu campo de atuação.
O também fotógrafo Renato Lima, fotografo há mais de 30 anos, disse que o ramo está diferente. Isso porque as novas tecnologias e as redes sociais tem roubado o espaço dos fotógrafos. “Tudo com o celular é mais rápido. Tanto em qualidade como em rapidez. As pessoas tem só o afã de postagens e perderam o interesse do álbum, de uma fotografia impressa para colocar no seu porta-retrato”, afirma.
São poucas pessoas que desejam ter essa lembrança, diz Renato. E, sobretudo, os jovens não querem. Questionado sobre se o fotógrafo profissional consegue sobreviver da profissão, ele disse que em alguns casos específicos sim, mas no geral, não. “Infelizmente não. Tem que trabalhar triplicado para ter, talvez, o mesmo padrão de vida que tínhamos há dez anos. Mesmo assim pode ser que não tenha”, lamenta.
O avanço das tecnologias mudou a forma de trabalho do fotógrafo profissional. Segundo Renato, ele dificilmente consegue fazer um álbum hoje. “As pessoas querem mais as imagens, os arquivos. Ganhamos em rapidez porque você faz o seu evento, entrega o arquivo, a pessoa pagou e não tem mais vínculo com você. Nesse aspecto você ganha em agilidade, mas em termos de lucratividade, de volume de vendas, diminuiu”.
O trabalho do fotógrafo é cobrado por um pacote de serviços. “Fazemos o registro e damos ao cliente o valor. Cada serviço tem um valor diferenciado e de acordo a importância do evento porque cada evento vai gerar uma quantidade de fotos diferentes. Em detalhes, em tudo”.
Por causa da pandemia, os eventos estão retornando agora e com certa limitação. “Os eventos são mais limitados, estão mais enxutos. Então produzimos menos fotos. Esperamos que a liberação dos eventos volte com mais força”.
O fotógrafo Antônio Oliveira, mais conhecido como Cabo Dé, é fotografo há 50 anos. Ele começou a fotografar em preto e branco, foi quando ganhou muito dinheiro. Hoje ganha menos com a fotografia a cores e por causa da tecnologia. “Todo mundo fotografa com o celular e diminui a quantidade de fotografias que faziamos antes”, diz.
O que mais lhe marcou nos seus 50 anos de profissão é que houve uma época que em um dia só fotografava até quatro casamentos. Ele disse ter trabalhado muito, inclusive fotografando para matérias jornalísticas.
Para ser um bom fotografo, na opinião de Cabo Dé, você precisa principalmente gostar da fotografia. “Se você não gostar daquilo que você faz, seja em qualquer profissão, você não será um bom profissional. Mas se você gosta da fotografia, você realmente é um bom fotógrafo. E a técnica é se atualizar, aprender cada vez mais para servir bem o cliente que lhe convidar para fazer um serviço”.
Você precisa ainda saber qual a hora exata de fotografar. Ele lembra que já fotografou lutas de Renato Pereira, mestre de Karatê. “Tínhamos que pegar o lance no ar, o cara derrubando outro. É também como no futebol, que você tem que pegar o lance no momento em que está acontecendo. A mesma coisa é numa igreja, que você tem que pegar a hora que o padre coloca a hóstia na boca da criança. No Batismo, é o que a água cai na cabeça. As assinaturas no casamento. Tudo tem que ser rápido”. Ele lembra que existem locais que você pode repetir a pose, mas em outros que não aceita. “Tem juiz que não aceita, tem padre que não aceita. Você tem que pegar o lance imediatamente para não ter que repetir a pose”.
O evento que mais lhe emocionou foi quando o Papa João Paulo II esteve no Brasil, em Recife, e ele o fotografou no centro da cidade. “Aquilo me emocionou e me marcou muito”. Sua vocação começou quando trabalhou em um laboratório fotográfico como aprendiz. Ali pegou gosto pela profissão. “De lá para cá nunca mais deixou de ser fotógrafo. A primeira foto que tirei e que ganhei dinheiro ainda tenho. Foi de garotos que jogavam em um time futebol batendo ‘um baba’”, disse.
Hoje com 69 anos, sendo que 50 deles dedicados a fotografia, Cabo Dé sustentou a sua família da profissão que tanto ama. “Tudo eu fiz foi com fotografia. Tudo que eu tenho, tive e ainda terei, se der tempo, será com fotografia”.
Para quem quiser entrar no ramo, Cabo Dé recomenda ter paciência. Isso porque existe muita concorrência. E amar o que faz. “Mas infelizmente não vai mais ganhar tanto dinheiro. Hoje em dia a fotografia não é mais aquele mar de rosas. Acabou aquele tempo bom. Ele vai encontrar muita concorrência mesmo”, finaliza.
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