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Mundo Apagão

Pane na Internet: os problemas dos monopólios

Por João Paulo Just Peixoto

20/10/2025 17h42 Atualizada há 2 meses
Por: Karoliny Dias Fonte: João Paulo Just Peixoto

Foto: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo

- Alexa, bom dia.

- …

Sem resposta.

Assim foi o início do dia para quem usa o assistente virtual Alexa da Amazon. E também pra uma boa parte da população mundial, fossem usuários da Alexa ou não.

Nesta manhã de segunda-feira, 20 de outubro, muitas pessoas ficaram sem acessar algumas funcionalidades dos aplicativos de bancos, ficaram sem fazer compras em marketplaces famosos e até sem poder malhar na academia (isso mesmo, segundou sem musculação!). Houve uma pane na Internet que deixou vários serviços fora do ar (até mesmo um aplicativo que dá acesso a várias academias pelo país).

O que ocorreu foi uma falha em um dos produtos da AWS – Amazon Web Services. A AWS é um serviço de computação em nuvem fornecido pela Amazon e muito utilizado por diversas empresas que funcionam online como bancos, sites de vendas, aplicativos de produtividade e até sistemas de academias. Devido a esta falha todos os aplicativos e sites que fazem uso do sistema de banco de dados da AWS, direta ou indiretamente, ficaram completamente ou parcialmente fora do ar.

Que estranho, como uma rede descentralizada como a Internet pode sofrer uma paralisação de diversos serviços mundo afora por causa de uma falha em uma única empresa?

A culpa é do monopólio. Antigamente (lá no início da Internet nos meados dos anos 90 e no início dos anos 2000) havia diversas empresas que forneciam serviços de hospedagem de sites mundo afora. Se você quisesse colocar seu site na Internet bastava contratar uma delas para que você (ou algum profissional de TI contratado por você) subisse os arquivos para o servidor remoto e o site começasse a funcionar. Se a empresa fornecedora do serviço não agradasse você poderia escolher uma outra entre dezenas ou centenas no mundo. Simples assim.

Porém, depois surgiu o conceito de computação em nuvem, que expandia os serviços já existentes, limitados apenas a hospedagem de páginas e servidores virtuais, a um leque de produtos que variam desde a simples hospedagem de sites até serviços complexos de execução de programas remotos e distribuição de conteúdo. A Internet evoluiu e as empresas fornecedoras de serviços online também precisaram evoluir. Isto é bom, porém algumas empresas concentraram tanto poder e capital que hoje monopolizam o mercado de serviços em computação em nuvem. São elas a Amazon (AWS), a Microsoft (Azure) e a Google (Google Cloud).

Em agosto de 2025 estas três juntas concentravam 63% do mercado mundial de serviços em computação em nuvem (dados do Statista). Em outras palavras: escolha qualquer aplicativo no seu celular e as chances dele depender dos serviços de pelo menos uma destas três é de 63% (às vezes um mesmo serviço usa mais de um fornecedor de nuvem). A Amazon sozinha detém 30% do mercado. A Internet, que deveria ser uma rede descentralizada, é afetada pela concentração de serviços em poucos fornecedores. Uma falha em um único destes fornecedores foi capaz de afetar o dia-a-dia de milhões de pessoas pelo mundo.

Algumas empresas estão fazendo o caminho inverso dos últimos anos e saindo das nuvens públicas e voltando para as nuvens privadas (nuvem pública é um serviço de nuvem ofertado por uma empresa e disponível para qualquer cliente, como a AWS da Amazon; enquanto que nuvem privada é quando a própria empresa cria e mantém sua infraestrutura de nuvem). Antigamente, quando ainda não havia o conceito de computação em nuvem, toda a infraestrutura de rede e serviços online de grandes empresas eram mantidas nas suas próprias dependências físicas. Comprava-se servidores e ativos de rede, instalava tudo em um prédio próprio ou alugado e mantinha-se ali a infraestrutura de serviços online. Esta é uma saída para não depender de três empresas para fazer seu serviço funcionar online. Porém há uma complexidade nisto além de um custo de manutenção, o que abriu caminho para que grandes fornecedores de nuvens públicas pudessem crescer. Facilitou para o empresário por um lado, mas concentrou os serviços de rede por outro.

Enfim, torçamos para que a Internet seja menos centralizada no futuro e que tenhamos mais provedores de serviços de computação em nuvem disponíveis. Precisamos fugir do monopólio da Internet.

João Paulo Just Peixoto

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