Março teve 6 mulheres vítimas de bala perdida e 22 mortos em chacinas

Março de 2025 registrou altos índices de violência armada em Salvador e Região Metropolitana, com 152 pessoas baleadas, das quais 120 morreram e 32 ficaram feridas. No entanto, dois dados chamam atenção do Instituto Fogo Cruzado, que produz e divulga dados abertos e colaborativos sobre conflitos com armas de fogo: além de quatro chacinas com 22 mortes, no mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher todas as vítimas de balas perdidas eram do sexo feminino, fato inédito desde o início do monitoramento na Bahia, em julho de 2022.

Os casos ocorreram em cinco dos 150 tiroteios mapeados ao longo de março no estado, Das seis vítimas de bala perdida, três morreram, entre elas Larissa de Azevedo durante uma perseguição com troca de tiros entre policiais e suspeitos armados na Avenida Paralela, próximo ao bairro do Trobogy, no dia 14 de março.

Outro caso emblemático foi o de uma idosa de 87 anos, baleada dentro de casa enquanto assistia televisão no bairro do Vale das Pedrinhas. Além disso, entre as seis mulheres atingidas, duas eram idosas (uma morreu e outra ficou ferida) e uma era adolescente. Três foram identificadas racialmente como negras.

Os casos aconteceram em Mussurunga, no dia 18; no Centro, dia 22; em Narandiba, dia 25, com uma mulher morta e outra baleada. Na totalidade do mês de março, 16 mulheres foram vítimas da violência armada, o maior número registrado em um único mês em 2025.

Para efeito de comparação, em janeiro, 12 mulheres foram atingidas pela violência armada. Dessas, duas foram vítimas de bala perdida: uma morreu e outra ficou ferida. Já em fevereiro, sete mulheres foram baleadas, mas nenhuma em circunstâncias de bala perdida.

Segundo a coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado, Tailane Muniz, a diferença nas circunstâncias dos casos não muda o fato de que todas essas mulheres eram inocentes e foram atingidas por tiros durante ações policiais ou confrontos armados.

"Uma a caminho do trabalho na avenida mais movimentada da cidade, outra assistindo TV, ou confraternizando com amigos próximo de casa. Uma mais idosa, uma adolescente, outras na metade da vida. Todas essas mulheres foram atingidas durante ações policiais. Mais uma vez, constatamos que a ação policial com foco no confronto é uma arma apontada também para a população", afirmou.

Redução - Apesar do aumento expressivo da violência contra mulheres, o Instituto Fogo Cruzado registrou uma redução geral nos tiroteios e mortes em março de 2025, comparado ao mesmo período do ano passado. Houve 150 tiroteios no mês, uma queda de 18% em relação a março de 2024, quando foram registrados 182 casos. O número de baleados também caiu 19%, passando de 188 em 2024 para 152 este ano. As mortes reduziram de 145 para 120 e os feridos de 43 para 32.

Houve ainda uma queda de 29% no número de tiroteios ocorridos durante operações policiais. Em março de 2024, foram 77 confrontos com participação policial, enquanto em 2025 foram 55.

Quatro chacinas com 22 mortes em um mês, aponta Instituto

O levantamento do Instituto Fogo Cruzado também revelou que 22 pessoas foram mortas em quatro chacinas ao longo do mês. Além disso, 21 tiroteios ocorreram em meio a disputas entre grupos armados, resultando em 16 mortos e quatro feridos. Dois tiroteios aconteceram durante perseguições, deixando dois mortos e um ferido. Em relação às balas perdidas, os números de 2025 superam os de 2024: em março do ano passado, uma pessoa morreu e três ficaram feridas em situações similares. Este ano, o número de vítimas fatais foi três, e o de feridos, três, com todas as vítimas sendo mulheres.

Fazenda Coutos foi o bairro de Salvador com mais violência

A distribuição dos tiroteios mostra que Salvador concentrou a maior parte dos confrontos, com 112 tiroteios, 91 mortos e 27 feridos. Entre os bairros mais violentos da capital baiana, Fazenda Coutos liderou com 14 tiroteios, 16 mortos e um ferido. Mussurunga teve oito tiroteios, com quatro mortos e dois feridos. Outros bairros impactados foram Brotas, Narandiba, São Cristóvão, Castelo Branco e Fazenda Grande do Retiro.

Camaçari teve 14 tiroteios, com 10 mortos e um ferido, enquanto Simões Filho registrou cinco tiroteios, quatro mortos e um ferido. Outros municípios afetados incluem Vera Cruz (cinco tiroteios, quatro mortos e dois feridos), Dias D'Ávila (quatro tiroteios e cinco mortos), Lauro de Freitas (quatro tiroteios e três mortos) e Candeias (três tiroteios e dois mortos).