Um dia após a divulgação do posicionamento do policial federal e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Roberto Uchôa, sobre a ousadia de facções que continuam a confrontar o poder público, o site apresenta, nesta quarta-feira (22), mais um trecho da entrevista com o agente, que integra a Polícia Federal há 19 anos.
Na visão de Uchôa, que também é pesquisador e consultor especializado em crime organizado, uma das principais prioridades para combater de forma eficaz o avanço desses grupos é repensar a estratégia do Governo Federal no enfrentamento à criminalidade.
"Essa política de segurança pública baseada em operações que focam apenas no criminoso do varejo, aquele que está na ponta, não dá resultado algum, porque será substituído. As armas serão repostas. O que precisa ser feito é atacar as organizações criminosas onde mais dói: no fluxo de armas, no tráfico de drogas e nas operações financeiras. É necessário atingir o dinheiro do crime. E esse dinheiro não está na comunidade. Quem fornece armas para o crime não está na comunidade. Os grandes atacadistas de drogas também não estão na comunidade. O foco deve ser o combate ao dinheiro ilegal que circula no mercado clandestino", afirmou Uchôa.
Quando questionado sobre quais iniciativas considera essenciais para desarticular as facções, Uchôa destacou a necessidade de reformular o modelo de trabalho das polícias no Brasil. "Acredito que precisamos implementar um novo modelo de segurança pública na Federação. Não podemos continuar sobrecarregando os Estados, cujas polícias estão completamente ultrapassadas. Esse modelo, onde apenas uma polícia investiga e outra realiza o policiamento ostensivo, é obsoleto. Isso precisa ser revisto, e o governo federal deve assumir um papel central nessa questão. Hoje, somos o país com duas das maiores organizações criminosas do mundo. Estamos em um continente que é o principal produtor de cocaína do planeta, e a demanda por essa droga cresce tanto no Brasil quanto no exterior", ressaltou o policial.
O especialista seguiu com sua análise, traçando um panorama sobre o lucro gerado por essas organizações. "Não por acaso, os dois países mais violentos do mundo atualmente, com os maiores problemas de segurança pública, são o México e o Brasil. Ambos estão inseridos nas rotas de cocaína para a Europa, África e América do Norte. Estamos falando de um volume imenso de dinheiro. Um quilo de cocaína custa, na Bolívia, mil euros. No Brasil, R$ 10 mil. Na Europa, R$ 90 mil. E na Austrália, R$ 250 mil. Existem organizações criminosas que movimentam esse montante".
Ele ainda apontou o desafio de lavar o dinheiro gerado pelo tráfico. "E qual é o desafio? Lavar esse dinheiro. E como isso é feito? Inserindo-o no mercado legal. Temos visto o PCC tentando comprar clubes de futebol em Portugal, operando empresas de ônibus para concessões em São Paulo, além de usar bets como ferramentas de lavagem de dinheiro. Estamos falando de bilhões de reais. E acreditar que o problema está restrito às comunidades na ponta é fugir da realidade. Esse dinheiro também é usado para financiar campanhas políticas, inclusive por meio de caixa dois. O problema da segurança pública não se resume a policiais, viaturas e armas", concluiu Uchôa.
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