Depois de declarar-se a Tourinho, que o apoia há uma década, Targino escolhe Geilson, antigo rival.
A imprensa ainda não se atentou para um fato curioso e, talvez, explosivo, da adesão do deputado Targino Machado a pré-candidatura do radialista Carlos Geilson a Prefeitura de Feira de Santana, anunciada esta semana.
Roberto Tourinho, decano da Câmara de Vereadores, legítmo pré-candidato à sucessão de Colbert Martins Filho, certamente está um tanto frustrado, decepcionado, com o ex-prefeito de São Gonçalo dos Campos. Se assim estiver se sentindo, tem direito.
Afinal, quase foi dele (e se o fosse, nada mais justo) o apoio de Targino, agora referendado a Geilson, senão vejamos.
Targino e Geilson, qualquer criança sabe, embora tenham sido de um mesmo time - comandado por José Ronaldo e ACM Neto - nunca foram aliados diretos, por razões muito óbvias: disputavam, ruidosamente, o eleitorado local em suas lutas para chega a Assembleia.
Os bastidortes jamais deixaram dúvida sobre as rusgas que existiam entre eles, especialmente em período de campanha. Um se sentia menos prestigiado que o outro, junto as lideranças apoiadoras. Vez por outra, um entrava no campo do outro em ligação direta, goleiro-atacante, sem passar pelo meio-campo.
Se já não eram próximos quando participavam de um mesmo grupo, essa distância se ampliou (ou deveria ter ampliado) depois da eleição de 2018. Dias após a derrota nas urnas, Geilson revoltou-se com aqueles com os quais caminhou por mais de 20 anos e abrigou-se nos braços do governador Rui Costa, do PT, inimigo figadal de Targino.
Enquanto a dupla Geilson-Targino sempre apresentou-se desentoada, o deputado do DEM manteve uma relação duradoura e frutífera com Tourinho. Ambos foram fortes aliados e fieis por uma década, ou mais.
O vereador lhe emprestou seu importante cabedal em duas eleições seguidas, 2014 e 2018, ajudando de maneira efetiva a que Targino explodisse de votos em Feira de Santana.
Há um ano, exatamente em 22 de julho de 2019, em uma entrevista ao programa Silvério Silva, de grande audiência, Targino fez uma espécie de "compromisso tácito" com Tourinho, olho no olho, ao vivo e a cores, pois ambos chegaram e sairam juntos do estúdio da rádio Sociedade News.
Em alto e bom som, como é de se seu estilo, o deputado cravou: se não fosse disputar a Prefeitura "havia um candidato de tamanho e envergadura que o cargo precisa". Este candidato, disse ele, seria Roberto Tourinho (e olha que, naquela altura, Geilson também já era pré-candidato a prefeito).
Pouco mais de 365 dias depois, eis que o homem do slogan "Falou, tá falado" parece ter mudado de opinião. De lá pra cá, o "candidato de tamanho e envergadura que o cargo precisa" mudou de nome.
Aquele que lhe deu a mão em duas de suas eleições, que lhe foi fiel defensor na Câmara de Vereadores, perde lugar para um outro (não que este outro tenha com ele uma prestação de serviços maior, pelo contrário). O escolhido é quase um desafeto de tempos não muito distantes.
Algumas perguntas (afinal, perguntar não ofende) surgem nesse momento: é coerente, justa e adequada a decisão de Targino? Ela não machuca, severamente, ao político honrado e seu aliado de todas as horas, Roberto Tourinho, que até tão pouco tempo, com justa razão, aguardava por alguma reciprocidade?
Tourinho, um político experiente, vereador de sete mandatos, advogado e jornalista, esperava de Targino algum reconhecimento, ou se encontrava preparado para esse duro golpe em suas expectativas?
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