Antes de uma cidade inteligente precisamos de cidadãos inteligentes

Hoje li uma notícia sobre a morte do colunista João Gonçalves de Farias, 78 anos, atropelado na Getúlio Vargas nesta terça-feira, dia 26 de setembro. Segundo um agente de trânsito entrevistado pela reportagem a vítima estava atravessando na faixa de pedestres. Lamentável!

Sendo um pesquisador na área de cidades inteligentes frequentemente leio artigos sobre iniciativas e soluções digitais para melhoria do trânsito em cidades, envolvendo semáforos inteligentes, engenharia de tráfego, redes veiculares, etc. Muitas pessoas falam comigo sobre esses assuntos e, inclusive, já estive aqui escrevendo sobre. Porém, há algo que preciso alertar: não adianta uma cidade inteligente se seus cidadãos não são, pelo menos, igualmente inteligentes.

Em se tratando de trânsito há diversos problemas na cidade de Feira de Santana que talvez não possam ser resolvidos apenas com o uso da tecnologia. Este caso recente escancara o problema que é para o pedestre feirense transitar nas ruas de nossas cidades. Chegamos ao ponto de precisarmos de agentes de trânsito nos locais mais movimentados para sinalizar parada para os veículos quando há uma certa quantidade de pessoas aguardando na faixa. Lembro de uma vez em que ocorreu um acidente na mesma avenida porque uma pessoa havia parado na faixa para dar a vez ao pedestre, quando um irresponsável atingiu o carro parado com tanta força que o veículo capotou. E ainda tive que ouvir um radialista famoso falando que é perigoso parar na faixa por causa desses acidentes, inclusive, confessando que não para por causa disso. Já ouvi essa fala de outras pessoas também e, para mim, isso é apenas uma desculpa esfarrapada para não parar na faixa.

O artigo 70 do Código de Trânsito Brasileiro determina que os pedestres terão prioridade ao passar pela faixa destinada a eles, exceto quando ela estiver em locais com sinalização semafórica. Ainda assim, os pedestres têm prioridade caso já tenham começado a atravessar quando o sinal estava fechado para os veículos, que devem aguardar até que eles cheguem à calçada. É obrigação de todo motorista saber disso! Aproveitando o gancho, é preciso lembrar à prefeitura feirense que há vários cruzamentos na nossa cidade onde o semáforo de pedestres nem funciona!

E não é só o problema da passagem na faixa de pedestres! Precisamos conviver também com filas duplas, roubadinhas, estacionamentos irregulares, fechadas, etc. Estamos em uma situação que não consigo imaginar uma solução de cidade inteligente para nosso trânsito. Este é um problema cultural e como problema cultural só conseguiremos resolver mudando a mentalidade das pessoas.

Portanto, faço uma aclamação aos motoristas que leram esse texto até o final: parem para o pedestre na faixa, sejam corretos no trânsito, vamos dar o exemplo e, quem sabe, futuramente poderemos conversar sobre soluções de cidades inteligentes para problemas que envolvam cidadãos inteligentes.

Por João Paulo J. Peixoto