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Saiba como a inflação impacta em nosso dia a dia

O professor de Economia da Uefs, Cleiton Silva, explica o que aconteceu para a inflação subir tanto nos últimos dois anos e se há previsão de baixa nos preços.

17/04/2022 09h16 Atualizada há 3 anos
Por: Karoliny Dias Fonte: Boca de Forno News
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

 

O professor de Economia da Universidade Estadual de Feira de Santana, Cleiton Silva, falou sobre a inflação que assola o país no ano de 2022. Ele explica o que aconteceu com os preços desde a chegada da pandemia e quando sairemos dessa situação de aperto. Segundo Cleiton, esse movimento de preços ocorre desde a segunda metade de 2020. 

Para o professor, essa é a dinâmica mais perversa dos preços porque está diretamente ligado as coisas que as pessoas mais consomem no país. Nos primeiros momentos da pandemia, ou seja, na primeira metade do ano de 2020, a expectativa era que o impacto inicial seria de deflação porque as pessoas estariam em isolamento social e pararam de consumir e comprar. “Inicialmente os preços foram para baixo. Mas em seguida, na segunda metade de 2020, 2021 inteiro e nesse início de 2022 a tendencia mudou. A inflação começou a acelerar, os preços começaram a subir cada vez mais rápido e a pandemia tem muita culpa disso”, explica.

O professor ressalta ainda que essa tendencia não é apenas a nível de Brasil, mas a nível global. Ele destaca que as pessoas mudaram seus hábitos de consumo e a cadeia de oferta global ficaram desorganizadas por conta do forte isolamento social. Além disso, as condições climáticas adversas prejudicaram a inflação, principalmente com o fraco regime de chuva, o que forçou as autoridades a colocar a bandeira energética mais alta. “O preço da energia elétrica aumentou muito no ano passado e nesse ano também”.

Além disso, o preço das commodities subiu muito internacionalmente, especialmente o petróleo. No final de 2020 e agora em 2022 com os conflitos entre a Ucrânia e Rússia, voltou a subir ainda mais. Isso é uma outra pancada em nossa inflação, diz Cleiton. Há ainda o dólar subiu ainda rapidamente refletindo alguma bagunça aqui no país em função da crise sanitária e o frete internacional subiu também. Tudo isso na passagem do final de 2020 para 2021 e que se entende por 2022.

“Trocando em miúdos, preço dos alimentos, combustíveis, gás de cozinha, energia elétrica, material de construção, bens duráveis, inclusive a automóveis, tudo para cima. Repito: isso é global. Está acontecendo no mundo inteiro, mas a pancada no Brasil tem sido mais forte. É por isso que estamos conversando sobre esse assunto neste momento”.

A inflação é hoje um dos principais problemas do Brasil, confirma o professor. Isso falando em termos de problemas econômicos. “É um dos principais problemas do Brasil e eu até diria de todo o mundo. O mundo todo está preocupadíssimo, tanto a sociedade quanto as autoridades com a inflação”. 

O professor diz ainda que essa inflação alta está forçando os bancos centrais do mundo todo, tanto o emergente, como o Brasil, quanto no mais desenvolvido, atestarem a política monetária. Ou seja, aumentar os juros. E esse aumento, lá na frente, vai prejudicar o crescimento econômico global. “Quanto mais a gente aperta na política humanitária para combater o problema da inflação tem esse efeito na atividade econômica, inclusive na geração de bons”.

Nos Estados Unidos, diz Cleiton, está se vivendo a maior inflação dos últimos 40 anos e esse aumento de juros que o país já começou a fazer e continuará ao longo desse ano pode leva-lo a uma recessão. “Lembrando que os Estados Unidos é a principal economia do globo. E isso chega aqui no Brasil cedo ou tarde”.

Mercado de trabalho

O primeiro impacto no mercado de trabalho da pandemia, do isolamento social e da alta incerteza, foi o aumento grande do desemprego e uma geração líquida de empregos formais negativas, ou seja, mais desligamentos do que admissões, e isso jogou a taxa de desemprego do país lá pra cima, destaca o professor. 

“Aconteceu no mundo todo isso. Porém, na segunda metade de 2020 com mais força, 2021 continuando e agora em 2022 começamos a gerar sistematicamente mais empregos. A taxa de desemprego voltou a cair. Inclusive, a taxa que a gente observa hoje é bem próxima daquela que a gente observava antes mesmo dessa pandemia. O momento hoje é melhor e isso vale para o mercado de trabalho tanto os empregos formais quanto para os informais”, diz.

A a liberalização do setor de serviços com o avanço da vacinação e as pessoas perdendo o medo, as coisas foram se abrindo, o setor de serviço passou a gerar mais empregos nos últimos meses e fez também com que o tanto o emprego formal quanto o informal se recuperar. “O problema não é o hoje, mas o cenário mais para frente. No final de 2022 e 2023 teremos desafios enormes para superar para continuar gerando empregos com bons salários”, explica. 

Guerra Rússia x Ucrânia

É difícil de entender o porque de uma guerra que acontece do outro lado do mundo impactar em nosso país. Cleiton explica que esse conflito tem um efeito negativo importante no mundo, não só no Brasil, que é o efeito direto sobre a inflação global. “Como eu falei, a inflação já está subindo com força em 2021, antes mesmo da guerra, e ela colocou mais lenha nessa fogueira da dinâmica inflacionária. Preços como do petróleo, gás natural, trigo, milho, fertilizantes, coisas que tanto a Rússia quanto a Ucrânia produzem bem e vendem para o mundo, passaram a subir mais rapidamente e jogou lenha inflação global”. 

Paralelamente a isso, destaca o professor, tem a questão energética que vai fazer com que o mundo cresça menos nesse ano 2022, especialmente a Europa. “E com o mundo crescendo menos e a inflação global, a parte negativa chega aqui no Brasil cedo ou tarde”. Por outro lado, o professor gosta de chamar atenção também para um possível efeito positivo que esse conflito pode exercer sobre o Brasil. “Somos um bom produtor e exportador de commodities agrícolas, metálicas, inclusive o petróleo. E o preço deles subindo faz com que as nossas empresas tenham maior receita e também lucrem mais, melhorando a nossa balança comercial. Isso ajuda em emprego nos setores, ajuda na arrecadação tributária dos governos tanto estadual quanto do governo federal, dá uma força pra o real se valorizar ou se desvalorizar menos em relação ao dólar para rebater na inflação e valoriza as ações das empresas diretamente ligadas a esses setores”.

Mas é difícil dizer se o impacto disso tudo vai ser mais positivo ou negativo, afirma. “Mas a minha percepção em termos de impactos econômicos, é tendemos mais a sair perdendo do que ganhando com essa guerra”. 

Riscos para a economia

São vários riscos e riscos vindo de tudo quanto é lado, diz o professor. Tanto do que acontece dentro do país quanto de fora. Exemplo de fora é o que está acontecendo nos Estados Unidos como dito anteriormente que pode acabar desvalorizando o real em relação ao dólar. “Se isso acontecer prejudica nossa luta para diminuir a inflação. E todas as economias emergentes que tem relações com os EUA sofrerão”. 

Na Ásia, mais especificamente na China, está se falando em um novo surto de Covid-19, o que não deixa de ser um risco para o Brasil que está melhorando sistematicamente em termos de imunização, casos da doença e óbitos.

No cenário interno existe a inflação que é muito alta e que, na opinião do economista, pode diminuir no segundo semestre. “Mas pode ser que não aconteça, o que pode levar o Banco Central aumentar ainda mais os juros”. As eleições podem ainda ser extremamente acirradas e de risco para as instituições democráticas. Isso é um problema de perda de confiança no final de 2022.

E com a possibilidade da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) entrar na Guerra da Ucrânia até o final do ano pode ainda potencializar os problemas que já está enfrentando tanto em 2021 quanto em 2022. 

Esperança de baixa nos preços

O palpite do economista é que a inflação diminuirá no segundo semestre desse ano e também ao longo de 2023. “A inflação desse ano será alta, mas não tão alta quanto foi em 2021. Isso porque o dólar está baixando muito nos últimos três meses, a bandeira de escassez hídrica vai mudar (a bandeira verde será acionada e espera-se que isso ocorra até o final do ano) e os preços dos combustíveis pode cair um pouco”, afirma. 

Tudo isso deve ter um bom impacto na inflação nos próximos meses. Ele acredita que até o final do segundo semestre se encontre uma rota de desaceleração da inflação acumulada no Brasil. 

Com informações da repórter Engledy Braga

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