A coordenadora do curso de Medicina da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), professora Clara Sanabria, falou sobre os estudantes que estão em residência e que em alguns momentos se pegam sem fazer nada. O único local para estudar é o Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), o que dificulta o seu aprendizado.
Questionada sobre se tem conhecimento desse fato, a coordenadora afirmou que o internato médico e a residência são duas coisas diferentes. No internato médico, que são os dois últimos anos do curso e seria o equivalente ao estágio de graduação, no qual o estudante tem basicamente atividades práticas no serviço de saúde. A residência é um curso de especialização de pós-graduação em serviço de saúde.
“Os alunos estão enfrentando problemas com o internato. Ele tem práticas em diversos hospitais das Secretarias Municipal e Estadual de Saúde. Nossos internos rodam no Lopes Rodrigues, no SAMU, nas unidades de Saúde da Família, no Hospital da Mulher, no Hospital Estadual da Criança e no Clériston Andrade. Desde o ano passado, tem sido campo de prática também para os cursos de Medicina de outras universidades. A situação esse ano é que aumentaram os estudantes de Medicina de outros cursos e isso tem gerado uma necessidade de organização do próprio campo dentro do hospital”, explica.
Para a professora, várias atitudes podem ser tomadas para mudar essa situação e vários fatores também estão envolvidos. Segundo ela, a gestão dos hospitais públicos são das Secretarias e nas unidades de ambas estudantes de universidade públicas e particulares trabalham. “Existe a necessidade de se reorganizar isso. No Lopes Rodrigues, Clériston e HEC, que são estaduais, a Escola Estadual de Saúde Pública faz um processo de disponibilização dessas vagas que prioriza as universidades públicas. Só depois são dadas vagas para rede privada”.
Ela disse que é necessário o diálogo para ajustar essas questões para que o quantitativo de estudantes por pacientes seja o ideal tanto para a formação do estudante quanto para a segurança e conforto do paciente. “Nesses diferentes âmbitos existem técnicos qualificados para fazer essa avaliação”.
Uma pesquisa do Conselho Federal de Medicina revela que escolas médicas na Bahia não observam critérios para oferecer formação de qualidade. Dos 17 municípios baianos que oferecem escolas médicas, apenas Salvador tem os parâmetros ideais para o funcionamento satisfatório de uma Faculdade de Medicina. A professora diz que a quantidade de cursos de Medicina é regulada pelo Ministério da Educação e quem aprova o funcionamento dos cursos de graduação também é o mesmo Ministério.
“E compete a ele fazer a avaliação de todas essas questões da estrutura física, humana e os critérios pedagógicos para garantir a qualidade da formação. No caso da Uefs, que é uma universidade pública estadual, é o Conselho Estadual que avalia e faz o reconhecimento dos cursos. É uma questão delicada. Os estudantes devem se mobilizar e informar as situações. E nós, como professores, nos mobilizar no caso de alguma dificuldade. No caso específico do Clériston, estamos levando essas questões para o espaço competente de tomada de decisão e diálogo para que seja feito o que é melhor sobre o quantitativo de estudantes que estejam presentes na unidade. Isso no Clériston e nas outras unidades que já falei”, afirma.
Para a aprovação dos cursos de Medicina pelo Ministério da Saúde, existe um processo para que isso aconteça que inclui uma avaliação in loco. “A instituição deve ainda encaminhar um projeto e depois uma equipe do Ministério faz uma visita e avalia com os critérios que ele já tem determinados lá. Após isso, periodicamente, a cada cinco anos pelo ao menos, o processo deve ser renovado com uma nova visita de avaliação que vai verificar novamente esses critérios”.
Os estudantes que fazem o internato não são deixados a cabo apenas das unidades que estão estudando, precisam ter um professor da faculdade supervisionando, diz Clara. Por isso, o internato da Uefs acontece no turno diurno. Se os estudantes não estiverem preparados para atender, os prejuízos são diversos e não unicamente para os médicos, alerta a professora. A cada ano, a Uefs gradua 34 médicos.
“Imaginem um engenheiro civil que não esteja qualificado para preparar adequadamente uma ponte. Essa questão ultrapassa o âmbito dos cursos de Medicina e vi além, perpassando pelos critérios cobrados pelo Ministério da Educação e o Conselho Estadual de Educação. Precisamos ter a certeza de que esses órgãos tem esses critérios bem avaliados, de que o estudante que está se dispondo a estar seis anos fazendo um curso a garantia da qualidade”, diz.
O documentário de demografia médica do Brasil, elaborado pelo Conselho Nacional de Medicina, ainda conforme a professora, informa que no Brasil, em 2020, existiam 500 mil médicos, sendo uma relação de 2,4 médicos por mil habitantes. “Os países industrializados tem entre 5 e 6 médicos por mil habitantes. Precisamos de quantidade e qualidade. Segundo esses indicadores, o Brasil precisaria de mais médicos. Onde estão esses médicos? O ideal é que todos estivessem nas unidades de saúde da família e em residências médicas dentro do município, já que o Brasil tem o SUS, que tem como base e porta de entrada a atenção primária em saúde que é de gestão municipal”, finalizou.
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