A coordenadora do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), Lindinalva Oliveira Santos, falou sobre o tema gravidez na adolescência. Ela disse que há uma preocupação grande em relação a esse tema porque no Brasil, a cada mil nascidos, 64,9% são filhos de adolescentes, o que traz consequências para essas meninas que estão em seu período escolar. O CRAS, segundo Lindinalva, trabalha de forma preventiva no cuidado com a família e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) trabalha com a violação de direitos.
“Muitas dessas adolescentes acabam engravidando por esse motivo, por uma violação de direitos. A gravidez traz muitos conflitos porque a adolescente está psicologicamente instável. A gravidez implica muito no período escolar da aluna e muitas delas acabam abandonando a escola. O corpo está em formação e ela não é madura o suficiente para assumir essa responsabilidade”, explica.
O Poder Público tem desenvolvido campanhas com o intuito de conscientizar a população sobre esse problema. Kênia Ribeiro Lima Santana, psicóloga do Creas, participando dessa campanha, falou sobre os impactos de uma gestação durante a adolescência. Conforme ela, o corpo da adolescente está em processo de construção e sofre por causa dessa gestação. “Quando falamos de prematuridade, eclâmpsia, pré-eclâmpsia, convulsões, que são questões físicas e relacionadas a gravidez na adolescência. Isso não quer dizer que todas passarão por isso, mas muitas delas sofrem esses impactos”.
A psicóloga do Creas, Kênia Santana
Na questão psicológica, a gravidez faz com que o emocional da adolescente se compromete gradativamente. Ela por si só já está no processo de descoberta saindo da fase de criança, mas ainda não é adulta. “Ela está no processo de construção. Imagine se diante dessa construção você ter que gerar outra vida? Os julgamentos, medos, falta de apoio da família favorecem muito para depressão, depressão gestacional, depressão pós-parto, psicose, transtornos de ansiedade, tentativas de suicídio. O índice de suicídio cresceu significativamente entre as adolescentes”, ressalta.
Falando sobre a questão social, o principal impacto é educacional. Se 95% das adolescentes concluem os estudos, para aquelas que estão em processo gestacional esse número cai para 50%, 40% ou até menos que isso, destaca a psicóloga, mesmo a escola dando a ela possibilidades para isso. “Ela não conclui por medo, pelo julgamento, pela necessidade de buscar uma renda para sustentar o bebê. São diversos os fatores, o que impacta na vida econômica gerando uma baixa mão-de-obra. Se ela não se qualifica, não está pronta para o mercado de trabalho, o que compromete o seu desenvolvimento profissional”, alerta.
Em Cachoeira, o índice de gestantes adolescentes ainda está sendo apurado, mas segundo a psicóloga Kênia, é significativo. “Não só em Cachoeira. A gravidez na adolescência se tornou um problema de saúde pública. Por isso a necessidade de campanhas e de se estabelecer uma semana de prevenção de gravidez na adolescência porque o índice é significativo. Precisamos buscar estratégias para conscientizar essas meninas”, explica.
Ajuda da família
Segundo a psicóloga, é necessário o diálogo dentro da família. Ela disse que é preciso desconstruir a ideia de que se quando conversa sobre sexo com as adolescentes se está incentivando a praticar o sexo. “Não incentivamos, orientamos e damos informações necessárias. Sem a conversa ele vai buscar informações em outros locais. Muitas vezes essas informações são equivocadas”.
Ela destaca que não é responsabilidade da escola ou dos meios públicos educar os filhos. A responsabilidade é a de orientar. Educar é no lar. “Quando você conversa você não incentiva. Você orienta de quais são os riscos da gravidez, das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Os índices de adolescentes com DSTs vem crescendo muito. Esse é um dado nacional. E isso por falta de diálogo. Informação existe, mas se o jovem não vai até esses locais não as obtém. Elas se recusam a ir para esses espaços por constrangimento”.
Para além da questão da conscientização das adolescentes, Kênia acredita que é preciso fazer um trabalho com os seus cuidadores nos diversos espaços. Esse não é um tema que se limita a saúde. Ele é educação, cultura, assistência social, esporte porque os impactos são em todas as esferas. “É preciso dialogar em todas as esferas também”.
Semana Nacional
De 01 a 08/02 comemorou-se a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência. Segundo o Ministério da Saúde, a data, instituída pela Lei nº 13.798/2.019, tem o objetivo de disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência.
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