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Bahia tem quase 5 milhões de inadimplentes

A cada dez baianos com renda formal, sete já comprometem mais da metade do salário com dívidas.

22/10/2025 08h21 Atualizada há 4 horas
Por: Karoliny Dias Fonte: Tribuna da Bahia
Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia
Foto: Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia

Orçamento curto, contas atrasadas e nome negativado. Essa é a realidade de quase metade da população adulta da Bahia, onde 4,9 milhões de pessoas estão inadimplentes, segundo os últimos dados da Serasa Experian. O índice equivale a 43,4% dos baianos com mais de 18 anos e revela um cenário de endividamento que se espalha por todas as faixas de renda, atingindo principalmente trabalhadores informais e famílias chefiadas por mulheres.

A cada dez baianos com renda formal, sete já comprometem mais da metade do salário com dívidas. De acordo com o levantamento, 74,1% da renda média no estado é destinada a quitar contas e empréstimos — percentual superior à média nacional, que é de 71,2%. As dívidas se concentram em bancos e cartões de crédito (31,29%), financeiras (21,72%), comércio varejista (15,4%) e contas básicas de água, luz e gás (13,27%), revelando que boa parte dos débitos não decorre de consumo supérfluo, mas de necessidades essenciais.

Os números expõem uma realidade cada vez mais presente nas famílias de baixa renda: o orçamento estrangulado, o nome negativado e a dificuldade em recomeçar o ano com as contas em dia. Diante desse cenário, o Mutirão de Negociação e Orientação Financeira, que será realizado em novembro, surge como uma oportunidade concreta para quem busca aliviar o peso das dívidas e começar 2026 com o nome limpo — especialmente porque as modalidades de crédito mais comuns, como cartão, cheque especial e empréstimos pessoais, têm as maiores taxas de juros do mercado.

Em muitos casos, o consumidor acaba pagando duas ou três vezes o valor original do débito apenas em encargos. Conforme a Serasa, o problema é agravado pela estagnação salarial e pelo custo de vida em alta — principalmente nos alimentos, energia e transporte.

“Quando o salário não acompanha a inflação, o trabalhador passa a usar o crédito para cobrir necessidades básicas, e não para investir. É o endividamento da sobrevivência”, explica o economista Gustavo Almeida. Para ele, o fenômeno se tornou estrutural. “Grande parte da população vive em um ciclo permanente de dívida. Paga uma conta, atrasa outra. Mutirões são oportunidades reais de reorganizar esse cenário, desde que venham acompanhados de educação financeira e planejamento familiar”, completa.

Ainda conforme a Serasa Experian, o perfil do endividado baiano é majoritariamente formado por mulheres chefes de família e trabalhadores entre 30 e 49 anos, muitos deles autônomos. Os valores médios das dívidas variam entre R$ 1,2 mil e R$ 5 mil, mas o impacto psicológico é muito maior. A inadimplência restringe o acesso ao crédito, afeta o aluguel de imóveis e até a busca por emprego, já que muitas empresas consultam o histórico financeiro antes da contratação.

Em Salvador, a costureira Rita de Cássia, de 46 anos, resume a angústia de quem vive com o nome negativado. “Eu perdi o emprego no comércio no começo do ano e comecei a usar o cartão para comprar comida e pagar a conta de luz. Agora estou com tudo atrasado e sem crédito. Quero aproveitar esse mutirão para negociar, porque não quero começar o próximo ano devendo”, conta.

Casos como o de Rita se repetem por todo o estado. O uso emergencial do crédito é cada vez mais comum, mas sem planejamento se transforma em uma armadilha. A própria Serasa destaca que dívidas de serviços básicos e de consumo essencial estão entre as que mais cresceram desde 2023, o que demonstra o impacto direto da inflação sobre o cotidiano das famílias.

Mais de 160 instituições participam do mutirão para limpar nomes

Para ajudar nesses desafios, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em parceria com o Banco Central, a Secretaria Nacional do Consumidor e os Procons estaduais e municipais, promove de 1º a 30 de novembro o Mutirão de Negociação e Orientação Financeira, que oferece condições especiais para renegociar dívidas bancárias em atraso.

Mais de 160 instituições financeiras participarão da ação, incluindo bancos públicos e privados, com propostas de parcelamento facilitado, descontos e redução de juros. O objetivo é permitir que o consumidor volte a ter crédito ativo e alívio no orçamento.

“O mutirão tem um papel duplo: ajudar quem está endividado e educar financeiramente para evitar que a situação se repita”, explica Amaury Oliva, diretor de Cidadania Financeira da Febraban. Segundo ele, só na edição de março deste ano foram repactuados mais de 1,4 milhão de contratos em todo o país.

Os interessados podem acessar o portal Consumidor.gov.br e negociar diretamente com a instituição credora, desde que tenham conta Prata ou Ouro no site Gov.br. A plataforma é gratuita e o processo é simples: o cidadão seleciona o banco, registra o pedido e recebe resposta em até dez dias.

Também é possível buscar apoio presencial nos Procons municipais, que ajudam a organizar as dívidas e a verificar as melhores opções de pagamento. Em alguns casos, o Procon orienta consumidores superendividados a elaborar um plano de pagamento realista, evitando que o acordo se torne impagável.

Na Bahia, onde o salário médio ainda gira em torno de R$ 2.100, o controle de gastos é essencial. Em meio ao 13º salário e às festas de fim de ano, muitos enxergam o mutirão como um respiro. É o caso do mototaxista João Sérgio, de 38 anos, morador de Feira de Santana. “Meu nome está sujo há três anos. Quero aproveitar novembro para tentar limpar, nem que seja aos poucos. A gente quer crédito pra trabalhar, não pra dever”, diz. 

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