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Saúde Fábrica de médicos

Onda de picaretagens na saúde expõe impactos da explosão no número de escolas de medicina

Brasil nunca teve tanto médico, mas, com explosão de número de escolas de medicina, passa a enfrentar uma pandemia de deficiências e picaretagens na saúde.

12/12/2024 08h37
Por: Karoliny Dias Fonte: Metro1
Foto: Reprodução/Freepik
Foto: Reprodução/Freepik

A olho nu, sem uma anamnese ou avaliação mais profunda, o salto no número de médicos no Brasil, apontado na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), poderia ser sinal da ampliação do acesso à saúde e da importância dada a esse segmento. Mas não é. Muito pelo contrário, o número tem preocupado entidades e profissionais da área por escancarar as consequências das fábricas de vagas que se tornaram as escolas de medicina.

Com mensalidades que chegam a custar R$ 15 mil, essas faculdades tornaram-se negócios lucrativos e quintuplicaram de 1990 para cá. Nos últimos anos, houve até uma tentativa de barrar a abertura desses cursos, mas uma onda de judicialização tem funcionado como alternativa, concedendo liminares para que eles funcionem mesmo sem o credenciamento do Ministério da Educação (MEC). Já são cerca de 3,5 mil vagas nessas condições no Brasil - volume, inclusive, superior às vagas autorizadas pelo ministério neste ano. A estratégia dessas grandes redes tem sido judicializar a abertura, matricular alunos rapidamente e assim forçar a autorização do MEC.

O ministério está recorrendo das decisões, mas a explosão no número de faculdades de medicina nos últimos anos já tem mostrado impacto na qualidade da formação dos profissionais e consequentemente na ética e na eficiência dos atendimentos aos pacientes. O próprio Conselho Federal de Medicina manifestou preocupação com esses números e seu reflexo nos médicos que estão sendo formados.

“Essa abertura indiscriminada não acompanha o número de professores preparados adequadamente para ensinar esses estudantes. Além disso, não há campo de estágio suficiente para garantir uma formação médica adequada. Não há preocupação com a qualidade desses formandos. O interesse é puramente comercial”, alerta Otávio Marambaia, presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb).

Não é por coincidência a febre de picaretagens e comportamentos controversos dos médicos nas redes e nos consultórios. Hepatologista e professor da Universidade Federal da Bahia, Raymundo Paraná relata que tem percebido um número de pacientes adoecidos por um mau cuidado de profissionais que se auto intitulam especialistas e prescrevem medicamentos desnecessários ou propagam conceitos que ferem a medicina. “Quanto mais profissionais de saúde com deficiência técnica, mais vulnerável eles vão ser para aderir a modismos”, pontua ele. A previsão é que em 2030 o Brasil chegue a 1 milhão de médicos, seguindo a prioridade de abrir vagas e enterrando a necessidade de avaliar a qualidade dos cursos já abertos.

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