Em meio às tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, o chamado “tarifaço” imposto por Washington segue afetando duramente a indústria nacional — especialmente setores como aço, alumínio, celulose e calçados. Diante desse cenário, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, lidera um esforço diplomático e técnico para recuperar o espaço perdido e restabelecer a previsibilidade das exportações brasileiras.
Em entrevista à Tribuna, Alban detalha os avanços nas conversas bilaterais, a estratégia de diálogo adotada pelo Brasil e as perspectivas para a retomada da competitividade industrial. O dirigente também comenta a necessidade de ajustes internos, critica a alta carga tributária e defende medidas estruturais para reduzir o custo da energia — um dos principais entraves ao desenvolvimento do setor produtivo.
“Na missão que lideramos a Washington, abrimos portas e estabelecemos pontes de diálogo com interlocutores estratégicos, deixando um saldo positivo e oportunidades concretas de cooperação em setores como data centers, combustível sustentável de aviação (SAF) e minerais críticos. Esses segmentos têm potencial real de gerar negócios de interesse mútuo e contribuir para a redução das tarifas”, diz.
Com uma postura pragmática, Alban acredita que o diálogo direto entre os presidentes Lula e Donald Trump pode abrir caminho para uma nova fase nas relações econômicas entre os dois países, baseada em cooperação, racionalidade e resultados concretos.
O senhor afirmou que pretende dialogar para aumentar a lista de exceções aos produtos brasileiros. Quais setores estão sendo priorizados nessas conversas — e que tipo de resposta ou sinalização o governo norte-americano deu até agora à CNI?
Ricardo Alban – As negociações com os Estados Unidos avançaram de forma construtiva e o diálogo direto entre os presidentes Lula e Trump representa um passo concreto na retomada das tratativas bilaterais. O que está em jogo não é um ganho adicional, mas a recuperação de espaço comercial que o Brasil perdeu com o tarifaço. Nosso objetivo é restabelecer previsibilidade e competitividade às exportações brasileiras, corrigindo distorções que impactam diretamente a indústria e o emprego.
Na missão que lideramos a Washington, abrimos portas e estabelecemos pontes de diálogo com interlocutores estratégicos, deixando um saldo positivo e oportunidades concretas de cooperação em setores como data centers, combustível sustentável de aviação (SAF) e minerais críticos. Esses segmentos têm potencial real de gerar negócios de interesse mútuo e contribuir para a redução das tarifas.
Desde o início, defendo que o Brasil mantenha o caminho do diálogo, sem medidas de retaliação, para preservar o ambiente de confiança e buscar soluções equilibradas. É natural que os Estados
Unidos protejam suas cadeias produtivas, mas acredito que há espaço para entendimento e cooperação. Nosso papel é contribuir com dados, propostas e pragmatismo para sustentar uma negociação racional e técnica.
O “tarifaço” dos Estados Unidos atinge especialmente setores como aço, alumínio, celulose e calçados. Quais impactos imediatos já foram sentidos pela indústria brasileira, segundo levantamentos da CNI, e quanto tempo o senhor estima para uma recomposição parcial dessas exportações caso os EUA não voltem totalmente atrás?
Ricardo Alban – O impacto do tarifaço ainda é significativo: 73,8% das exportações brasileiras aos Estados Unidos continuam sujeitas a tarifas adicionais, o que representa 6.033 produtos de diferentes setores — especialmente aço, alumínio, celulose e calçados. Mesmo com a recente atualização do anexo de exceções, os avanços ainda são pontuais, com apenas 39 novos produtos isentos, entre eles minerais críticos, metais preciosos e químicos industriais.
Ainda assim, o diálogo político de alto nível entre os presidentes Lula e Trump representa um sinal positivo e concreto para a indústria. Não há como estimar, neste momento, um prazo para a recomposição total das exportações, mas o fato de o tema estar na mesa de negociação já é um passo decisivo. O setor privado brasileiro está preparado para contribuir com dados técnicos e propostas que sustentem um entendimento equilibrado, com benefícios concretos para ambos os países.
O que está em jogo?
Ricardo Alban - O que está em jogo não é apenas recuperar espaço comercial, mas restabelecer um ambiente de previsibilidade e confiança nas relações bilaterais. É isso que permitirá à indústria brasileira competir em condições justas e ampliar sua presença no maior mercado consumidor do mundo. Estamos otimistas de que, com diálogo, racionalidade e cooperação, conseguiremos transformar esse momento em um marco positivo para o comércio entre Brasil e Estados Unidos.
Quais seriam, na visão da CNI, os três maiores impedimentos tributários ou regulatórios internos (por exemplo IOF, CSLL, alíquotas sobre investimento) que hoje mais oneram a indústria?
Ricardo Alban – O setor produtivo brasileiro não pode ser prejudicado com novos aumentos de tributação para compensar os problemas de caixa do Estado. Qualquer aumento tributário é prejudicial ao desenvolvimento da indústria e da economia brasileira. É um contrassenso tomar-se qualquer decisão que represente alta da carga tributária neste momento. O aumento do IOF, por exemplo, foi uma decisão equivocada, tanto que o Poder Legislativo - com o apoio do setor produtivo - não permitiu que avançasse, forçando um recuo do governo. Até as medidas alternativas à alta do IOF, propostas em medida provisória, acabaram derrotadas. Para a CNI, a decisão da Câmara dos Deputados de derrotar a Medida Provisória 1.303/2025 foi correta, uma vez que sua aprovação elevaria os preços dos produtos e serviços para toda a sociedade. Este seria mais um duro golpe no setor produtivo, enquanto as bets seriam poupadas.
Há uma “sanha arrecadatória” por parte do governo?
Ricardo Alban – Sim. É preciso reduzir gastos, mas também diminuir a enorme carga tributária sobre o consumidor. Nesse sentido, é essencial que o Congresso Nacional avance rapidamente com a regulamentação da Reforma Tributária, que vai estabelecer o IVA (imposto sobre Valor Agregado) com uma alíquota única, que ainda será alta, mas menos onerosa que o caos tributário que temos hoje.
Quais são as propostas concretas que a CNI está levando ao governo ou ao Congresso para reduzir a “tarifa alta” da energia para a indústria?
Ricardo Alban – A Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) custará mais de R$ 49 bilhões para os consumidores em 2025 e pode chegar a R$ 60 bilhões no ano que vem. Esse custo com políticas públicas do setor elétrico vem encarecendo muito a conta de luz, o que não faz sentido pois o Brasil é o país que produz energia barata, mas que contraditoriamente cobra uma das tarifas de energia mais caras do mundo. Precisamos construir uma solução estrutural que traga disciplina de gastos da CDE, limitando a um teto máximo as despesas.
A Medida Provisória (MP) 1.304/2025, que tramita atualmente no Congresso Nacional sob a relatoria do senador Eduardo Braga, traz uma série de ajustes no modelo do setor elétrico, como a limitação do orçamento da CDE e novas regras para o gás natural. No entanto, temas que ficaram de fora na aprovação de outra MP - a 1.300/2025 -, que trouxe a gratuidade nas tarifas de energia para os consumidores de baixa renda, devem ser comtempladas nessa nova MP, principalmente a ampliação do mercado livre, novas regras para os encargos setoriais e novas modalidades tarifárias. Além disso, temos a expectativa que essa medida provisória trate de temas como a restrição de geração para energia renovável e novas regras para o armazenamento de energia.
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