O consumo de alimentos, energia e transporte do 1% mais rico do Brasil -aqueles com renda média mensal de R$ 20 mil ou superior- emite sete vezes mais GEE (gases do efeito estufa) que o dos 10% mais pobres, cuja renda não chega a R$ 200, segundo estudo publicado nesta quinta-feira (14).
A nota de política econômica do Made (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades), instituto da USP, mostra que o país segue a tendência global segunda a qual os mais ricos apresentam uma maior pegada de carbono, cálculo de quanto o consumo de cada pessoa gera em emissão de GEE.
Os GEE são os gases responsáveis pelo aquecimento global e, consequentemente, pela mudança climática. Os principais são carbono, metano e óxido nitroso.
Conforme pesquisa da Oxfam Internacional, os 10% mais ricos do mundo são responsáveis por 50% das emissões de carbono na atmosfera, a classe média (40% da população), por 43%, e os mais pobres (50% do total de habitantes), por apenas 8%.
No Brasil, o consumo dos 10% mais ricos emite mais do que a soma das emissões dos 35% mais pobres, segundo o estudo do Made. A diferença da pegada de carbono entre as classes é menor que a mundial, porém, devido à estrutura produtiva do país.
"A gente tem um padrão de emissão diferente do resto do mundo. Enquanto para eles o consumo de energia é muito importante para a responsabilidade do consumo das famílias, para o Brasil, é menos, porque temos uma energia mais limpa e a agropecuária é muito relevante", diz Lucca Henrique Rodrigues, mestre em economia e pesquisador do Made.
No país, aproximadamente dois terços das emissões de GEE estão ligadas à agropecuária e à mudança do uso do solo, o que se reflete no cálculo da pegada de carbono no consumo de alimentos -associado a essas atividades.
Segundo o estudo, a alimentação é responsável por 48% da pegada de carbono dos brasileiros, seguida pelo consumo de energia, água e geração de lixo nas moradias (28%) e pelo uso de transportes (17%). Globalmente, a energia tem maior peso e é seguida pelo transporte.
A pesquisa relacionou o volume de emissões de GEE necessário para a produção e distribuição de bens e serviços com os dados de consumo das famílias presentes na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-2019).
A diferença no consumo da alimentação, apesar de maior nas classes mais altas, não chega a ser tão grande como no uso da energia, diz o pesquisador. "Por exemplo, o uso de ar-condicionado, piscina aquecida, todos esses consumos de energia mais ‘extravagantes’ comparados a uma alimentação mais ou menos cara [causa maior diferenciação]", explica Rodrigues.
Apenas entre o 1% de pessoas mais ricas do país, o transporte fica em segundo lugar, sendo seguido pela energia. "Viagem de avião internacional, viagem de avião doméstico e Uber, por exemplo, têm valor muito mais elevado que uma passagem de ônibus e uma emissão maior também", detalha o pesquisador.
O estudo sugere, entretanto, que diminuir a pegada de carbono individual não deve ser a maior prioridade do Brasil. Isso porque alimentação e energia são responsáveis por pequenas porcentagens (2,45% e 4,73%, respectivamente) dos gastos totais da população. Ou seja, a alta no índice se deve à forma como os itens consumidos são produzidos.
"Se a gente aumentasse a renda das pessoas, o aumento do consumo não impactaria tanto no aumento de gás efeito estufa, porque o problema não vem do consumo, mas da produção", diz Rodrigues.
A pesquisa conclui que, para diminuir o padrão de emissões da economia brasileira, o principal fator a ser aprimorado é a intensidade de carbono gerado na produção do setor agropecuário -o que inclui medidas como recuperação de carbono no agronegócio.
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