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Polícia Violência sexual

Bahia registrou mais de 600 crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes em 2024; entenda como a internet tem papel fundamental nos casos

Neste sábado (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o g1 traz dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e conversa com titular Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derca) em Salvador.

18/05/2024 09h12
Por: Karoliny Dias Fonte: G1 Bahia
A Bahia é o quinto estado com mais notificações de abuso e exploração sexual infantojuvenil — Foto: Polícia Civil do Estado de Rondônia/Divulgação
A Bahia é o quinto estado com mais notificações de abuso e exploração sexual infantojuvenil — Foto: Polícia Civil do Estado de Rondônia/Divulgação

Entre janeiro e o dia 13 de maio deste ano, 663 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes foram contabilizados na Bahia pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. De acordo com a delegada Simone Moutinho, titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derca), muitos deles começam ou passam pela internet.

Os números são computados anualmente no Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e ficam disponíveis para os cidadãos. Neste ano, já são 202 registros de estupro e 93 de exploração sexual. Uma criança pode ser vítima de mais de um desses crimes, na mesma situação.

"Temos uma subnotificação tremenda de casos de exploração e apenas 10% de tudo que acontece é noticiado. Só 1% gera condenação. A lei do silêncio ainda é muito forte e os dados mostram isso", afirmou a delegada.

Neste sábado (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o site traz um levantamento sobre as estatísticas da Bahia e a relação desses casos com a internet.

Dados na Bahia

A Bahia é o quinto estado com mais notificações, quie englobam diversos tipos de crimes, como estupro, exploração sexual, importunação sexual e violência sexual mediante fraude.

Entre janeiro e abril deste ano, foram contabilizados 564 casos. No mesmo período do ano passado, o número foi praticamente o mesmo: 565.

Em relação a exploração sexual, quando o corpo da criança é utilizado como moeda de troca ou como forma de comercialização, os registros diminuíram em todo o estado. Segundo a Polícia Civil, comparando os primeiros quatro meses de 2023 com os de 2024, é possível perceber que os casos reduziram, tanto na capital do estado, como no interior, onde ocorre a maior parte dos crimes.

Veja abaixo:

 

Agressores e vítimas

De forma geral, no Brasil a maior parte das vítimas são meninas pardas e pretas e os agressores, "pessoas de confiança". O painel do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania aponta que eles são pais, padrastos, vizinhos, tios e avôs, e usam dessa proximidade para cometer os abusos.

Segundo a delegada Simone Moutinho, o cenário muda um pouco quando se entra no campo da internet, onde abusadores se escondem atrás de perfis para iniciar relacionamentos com a vítimas.

Crimes na internet

“As crianças hoje são aliciadas e exploradas principalmente pela internet”, afirmou a titular da Derca, Simone Moutinho.

De acordo com a delegada, as redes sociais facilitaram as ocorrências por diversos motivos: a possibilidade de conhecer pessoas de fora do ciclo social, a chance de esconder a identidade, a rapidez de disseminar uma informação e até mesmo a facilidade de lucrar com a venda de conteúdos.

"Na maioria dos casos que passam pela internet, vítimas e agressores se conhecem em chats de jogos, grupos e aplicativos de relacionamento, por exemplo", contou.

De acordo com o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, neste ano já foram registrados 15 casos de estupro virtual, quando o agressor usa fotos íntimas ou até mesmo montagens para ameaçar as vítimas. Muitas vezes, elas são obrigadas a enviar conteúdos pornográficos para que a "foto inicial" não seja publicada - e aí começa o ciclo de ameaças e abusos.

Ainda segundo a delegada, o modus operandi dos suspeitos é bem parecido nesses casos:

- Se apresentam como pessoas da mesma idade e com os mesmos interesses das vítimas;

- Ganham a confiança e se tornam pessoas presentes no dia a dia, mesmo que virtualmente;

- Vítima e agressor trocam fotos íntimas e praticam sexting;

- Vítima passa a ser ameaçada.

Um exemplo disso ocorreu em 2023, quando um radialista baiano foi preso por suspeita de violentar, filmar e extorquir menores de idade em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Ele fingia ser adolescente, ganhava a confiança das vítimas e as convidava para participar de um sorteio de celular. As vítimas ganhavam o prêmio e, ao buscá-lo, eram estupradas.

O suspeito ainda filmava os abusos e as extorquia. As vítimas eram obrigadas a voltar ao local para serem estupradas novamente.

Sinais de atenção

O comportamento de cada vítima é muito pessoal, contudo, a delegada indica alguns pontos que podem ser analisados pelos pais e responsáveis, como:

- Mudanças abruptas de comportamento;

- Automutilação;

- Passar muito tempo na internet;

- Apagar histórico de pesquisas e dificultar o acesso dos pais ao próprio computador e/ou celular.

Prevenção

De acordo com Simone, em relação às redes, o que acontece na maioria dos casos é o "abandono digital", quando crianças e adolescentes usam as redes sociais livremente, sem nenhum tipo de monitoramento.

A medida, conforme ela, também não passa por hiper monitorar ou proibir o uso, já que as ferramentas se tornaram parte fundamental do dia a dia das pessoas. Uma das possibilidades é o letramento digital dos próprios responsáveis, para que possam acompanhar as crianças de forma sadia e conversar sobre o tema com propriedade.

Ainda segundo a delegada, a prevenção parte da informação e do diálogo aberto entre crianças/ adolescentes e seus responsáveis. Esse diálogo deve abordar o corpo humano e também a internet.

"É preciso fazer com que a criança pequena, de dois anos, saiba identificar as suas partes íntimas, porque assim ela consegue entender o que não pode ser feito e comunicar os pais caso o abuso aconteça", aconselhou.

Como denunciar

As vítimas podem registrar os crimes online ou presencialmente. A Delegacia Virtual ampliou as opções de registros de ocorrências e é uma alternativa importante para pessoas que podem ter dificuldades para se dirigir até uma unidade física. As denúncias podem ser feitas pela internet, no site www.delegaciavirtual.sinesp.gov.br.

Os crimes contra crianças, adolescentes e mulheres também podem ser registrados nas delegacias especializadas, como as Delegacias de Atendimento à Mulher (Deams) e as Delegacias de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derccas).

O Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) tem uma assistente virtual, a Judi. Pelo número de WhatsApp (71) 99978-4768, é possível obter informações sobre os tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher (psicológica, física, sexual, moral e patrimonial), além de ter acesso aos canais de denúncia. Também é possível relatar casos através do serviço nacional Disk 100.

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