Foto: Boca de Forno News
A família do bebê Bryan Bastos Barreto, de apenas 1 ano e 3 meses, que morreu após uma suposta negligência do Hospital Estadual da Criança (HEC) realizou, na manhã deste sábado (3), na porta da unidade, uma manifestação. Segundo os pais do menino, Natália dos Santos Bastos e Luciano Gois Barreto, houve negligência e omissão de socorro por parte do HEC no atendimento na última sexta-feira (26).
Luciano Góis Barreto - Foto: Boca de Forno News
O pai do bebê explicou que levou ele para a unidade com 38,4 graus de febre e lá tinha poucas pessoas para atendimento. “O HEC não estava cheio e mesmo assim demorou um pouco de atender ele. Bryan passou pela triagem e quando mediram a temperatura alegaram que por normas internas não iriam atende-lo e o encaminharam para a UPA porque seria a “parceria” deles, lugar que me traz más recordações”.
Luciano disse que não dorme bem. Só consegue dormir quando o seu corpo está extremamente desgastado. Sua esposa está a base de remédios para dormir. “Não está sendo fácil para nós mesmo com todo apoio que estamos recebendo. A ajuda nos conforta e nos dá força para lutarmos por Bryan”.
Ele alega que houve sim negligência e omissão de socorro no atendimento ao bebê. “Percebi que na UPA os profissionais não estavam preparados porque houve demora no socorro a Bryan. Foi uns seis minutos de demora. Eu estava do lado de fora da unidade consegui chegar primeiro do que a médica na sala”.
Ele não foi permito entrar na sala onde o menino estava para ficar com ele, só a esposa pode ficar. “Nem mandaram ela sentar, não olhou a gargantinha dele, não fizeram procedimento nenhum. Parece que só pensam em dinheiro e não trabalham por amor. Não falando de todos os médicos porque tem aqueles que são muito bons”.
O menino Bryan enquanto aguardava ser atendido na UPA do Clériston - Foto: Arquivo Pessoal
O que ele quer com a manifestação é que outras “criancinhas” não venham a sofrer mais e passem pelo que Bryan passou. “Estamos lutando por isso. Queremos repostas. Dizemos não aos 39 graus. Ele morreu porque não teve atendimento e não queremos que outros anjos sofram o que ele sofreu. Encontrei meu filho com boca e nariz sangrando quando entrei na sala. A caminha que colocaram ele estava toda ensanguentada. Ficamos com o trauma e não sei quando isso se cicatrizará em meu coração. Estou vivo por fora, mas praticamente morto por dentro. É uma dor angustiante”.
Valter de Oliveira Barreto, avô paterno do garotinho - Foto: Boca de Forno News
O avô paterno do bebê, Valter de Oliveira Barreto, morador do bairro Pedra Ferrada, afirmou que foi terrível o que ele passou. “Fui eu quem dei socorro ao meu netinho. Ele estava em casa, com febre. Falei com minha nora para leva-lo no HEC porque era muito bom achando que lá ele seria atendido. Ele veio brincando comigo, bem, mas com a febre”.
Ainda segundo seu Valter, sua nora fez a ficha, mas o transferiram para a UPA. “Não sei porque. Essa é a nossa revolta. Saímos felizes de casa para trazer para um hospital que ouvíamos falar tão bem e de repente levar para uma UPA que não teve nenhuma estrutura”.
Valter disse que sua nora viu tudo acontecer. “Foi ela quem deu o primeiro socorro, que fez a massagem cardíaca e gritou por socorro. Os médicos demoraram de atender. Não tinha preparo. Até as enfermeiras ficaram perdidas. Depois que os médicos a chegaram e tiraram da sala. Ela só os escutou agoniados e as coisas acontecendo. Depois transferiram para o HEC e não teve mais jeito. Só foi tristeza e agonia”.
O avô do garoto ainda disse que eles se sentiram enganados no momento porque eles questionaram quem era cada pessoa e dizia que ele estava em coma, mas bem. “Depois veio uma enfermeira chorando e pedi que ela não me enrolasse. Aí eles disseram que ele havia morrido. Vi minha esposa e nora gritando, meu filho não aguentou mais. O que estamos procurando é justiça desse atendimento ruim”.
Ele não escondeu que está com o coração partido. “Minha nora está a base de remédios e minha esposa tem depressão, toma remédios também. Eu, como avô, tenho que estar forte para estar aqui, lutando por Bryan e pedindo justiça”.
Elian Correia Bastos, avô materno do garotinho - Foto: Boca de Forno News
O avô materno do menininho, Elian Correia Bastos, afirmou que seu netinho convivia muito com ele. O menino ficava com ele pela manhã. “No dia do acontecimento eu tenho uma foto com ele no sofá de minha casa. Minha filha disse que estava preocupada com ele e por isso o levaria para o HEC. Fiquei preocupado. Meio dia ela me ligou me dizendo que ele tinha falecido”.
Para seu Elian, o mundo acabou no momento que recebeu a notícia da morte do neto. “Saí e deixei meu neto bem e depois recebi essa notícia. Conheço outras pessoas que também não foram atendidas aqui por causa da norma de se ter 39 graus de febre. Não aceito isso, você trazer seu filho a um hospital e negar atendimento”.
Com isso, seu Elian não queria dizer que a UPA não prestava em termos de atendimento, mas naquele momento não souberam socorrer a criança. “Demoraram demais de atender o menino e transferiram ele numa ambulância. A mãe veio a pé da UPA para o HEC. Não entendo como a criança vem em uma ambulância e a mãe a pé. Entregaram ele todo ensanguentado e morto. Até hoje não acreditamos no que aconteceu”.
A manifestação, ressalta o avô, é para chamar a atenção. “Não vamos trazer mais Bryan de volta. A solução teria que ter sido dada semana passada para ver qual seria o problema dele. Ele nasceu em um hospital e morreu em um hospital sem nunca ter passado por um hospital antes por nada por causa de sua saúde. O criávamos com todo o carinho e atenção”.
O que a família quer são mudanças nos protocolos. “Uma criança com uma febre de 38 graus precisa ser atendida. Tem que ser avaliada, ver como está, cuidar e depois voltar para casa, como em qualquer outro lugar”, pediu.
Relembre o caso
Bryan estava com febre a mais de 24 horas quando os pais foram a unidade e não foi atendido. A justificativa era a de que ele não apresentava o nível de febre exigido pela unidade, que seria a partir de 39 graus.
A orientação dada era de que a mãe deveria leva-lo para uma UPA, o que ela fez. Natália e Luciano levaram o menino para a UPA Estadual do HGCA. Nela, o menino foi medicado, mas o seu estado de saúde piorou. Bryan foi levado às pressas de novo para o HEC, mas não resistiu.
O que dizem a Sesab e o HEC
Em nota enviada a imprensa, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) lamentou o fato. Prometeu ainda que faria uma apuração do fato. Veja a nota abaixo:
“A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) lamenta o óbito de Bryan Barreto e imediatamente abriu sindicância para apurar as causas do ocorrido, o que inclui os protocolos de atendimento na UPA Estadual e no Hospital Estadual da Criança, bem como as condutas clínicas. Reiteramos que o serviço social das unidades encontram-se à disposição para quaisquer esclarecimentos aos familiares.
Na oportunidade, informamos que cumprindo determinação do Conselho Federal de Medicina (CFM), a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) não comenta ou fornece informações sobre pacientes da rede de assistência estadual.
Essa medida, que resguarda o paciente e equipe profissional, tem amparo no Código de Ética Médica, Capítulo IX, Artigo 75, em que é vedado “fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente”. Ainda no Artigo 73, parágrafo único, a divulgação permanece proibida “mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido”.
O respaldo dessa medida de não divulgação também está na Lei de Acesso à Informação (art. 31, & 1º, I da Lei nº 12.527), norma que garante 100 anos de sigilo para informações pessoais relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem”.
O HEC também enviou uma nota à imprensa:
“O Hospital Estadual da Criança informa que lamenta o ocorrido e que se solidariza com os familiares. O serviço social da unidade hospitalar está disponível para quaisquer esclarecimentos aos familiares.
Na oportunidade, o hospital informa que segue, para classificação de risco, o protocolo do Humaniza SUS para todos os pacientes que dão entrada na emergência, no qual são avaliados os sinais vitais, incluindo temperatura, sintomas, hemodinâmica do paciente, comorbidades, estado geral e nível de consciência. O HEC é uma unidade de alta complexidade. Pacientes classificados como azul e verde são encaminhados para atendimento em unidades de menor complexidade, conforme a rede de atenção do estado.
Durante todo o tempo, o HEC se mantém sempre disponível para receber o paciente, caso ocorra mudança no estado de saúde, por meio de pedido de transferência”.
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