Popularizada na internet, a expressão depressão funcional parece aparentemente contraditória. Como pacientes com depressão, normalmente tomados pela apatia e tristeza, podem ter funcionalidade? Mas ela tem sido usada justamente para definir quadros em que a pessoa mantém suas atividades rotineiras, no trabalho, estudos e na vida social, mesmo passando por sofrimento psíquico.
Em um vídeo recente sobre o assunto publicado em seu canal do Youtube, no dia 29 de setembro, o médico Drauzio Varella chama atenção para esta tipologia da depressão, que não tem diagnóstico formal, mas está diretamente ligada aos crescentes casos de depressão em diferentes faixas-etárias.
“A pessoa é capaz de seguir a rotina dela normalmente, mas sente uma tristeza profunda e outros sintomas da depressão”, afirma Drauzio. Entre os sintomas, ele cita a perda de interesse em fazer coisas que gostava, autocrítica exagerada, sentir-se sempre cansado e achar que a vida não faz mais sentido.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas no mundo convivem com a depressão, o que corresponde a cerca de 5,7% da população adulta global. No Brasil, o problema também é expressivo: de acordo com o Ministério da Saúde, 11,3% da população adulta recebeu diagnóstico médico do transtorno no último ano, com maior prevalência entre mulheres (14,7%) do que entre homens (7,3%).
“Muitas vezes, a pessoa segue produzindo, cuidando da família e das tarefas do dia a dia, mas internamente está em sofrimento. Essa invisibilidade da depressão funcional atrasa a busca por ajuda e agrava os riscos”, alerta o psiquiatra Ricardo Sbalqueiro, do grupo ViV Saúde Mental e Emocional. Entre os riscos do não tratamento estão a cronificação dos sintomas, a perda de qualidade de vida e, em casos mais severos, a ideação suicida.
“Precisamos quebrar o tabu que ainda cerca a depressão em muitas regiões do país. O sofrimento não pode ser invisível nem banalizado. Existe tratamento, existe recurso, e quanto mais cedo buscamos ajuda, maiores as chances de recuperação”, reforça.
O psiquiatra Armindo Barberino faz uma analogia com outras doenças para explicar a depressão funcional. Se pensarmos no diabetes e na hipertensão, por exemplo, vamos encontrar mais pessoas convivendo com formas moderadas do que com as graves.
“O raciocínio é o mesmo para as doenças mentais. Provavelmente, muitas pessoas que estão em sofrimento se passassem por uma avaliação seriam diagnosticadas com algum problema”, observa Armindo, que é professor do curso de medicina da Unifacs.
Em quadros mais leves de depressão, reflete, sentimentos como tristeza sem explicação, pensamentos negativos e irritação constante podem ser negligenciados e colocados na conta da rotina estressante na vida e no trabalho. “A sociedade estimula a produtividade e o estar sempre ativo, mas é preciso separar bem as coisas e buscar ajuda, pois nem sempre o autoconhecimento é suficiente”.
O psiquiatra explica que é possível tratar a depressão funcional sem recorrer a medicamentos, com terapias e mudança no estilo de vida. Mas nos casos moderados e graves, quando há alterações cerebrais por trás do sofrimento que paralisa a vida é preciso a realização de exames mais profundos e uso de antidepressivos.
“Na depressão grave, a pessoa às vezes não tem energia nem para ir à terapia e seguir com o tratamento. É esse paciente que normalmente chega ao psiquiatra”, afirma Armindo, que supervisiona o atendimento dos alunos na Clínica Integrada de Saúde (CSI) da Unifacs. Inaugurada em 2023, a clínica funciona no campus Paralela, que fica no Imbuí e faz atendimentos gratuitos, a adultos e crianças, mediante inscrição prévia no site unifacs.br ou pelo 08002840212.
Em Salvador, o atendimento a pessoas com transtornos mentais na rede pública pode ser feito nos 21 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que funcionam em vários bairros da cidade. De acordo com a psicóloga Danúbia Araújo, que atua no Caps II, que atende a região de Itapuã, ao chegar na unidade o paciente passa por um acolhimento, que definirá a melhor forma e lugar para seguir o tratamento - que pode ser ambulatorial ou seguir no CAPS, com um plano individualizado, no caso de transtornos graves e persistentes.
Na opinião da psicóloga, o crescimento dos casos de depressão deve ser compreendido de forma mais ampla, levando-se em conta as condições de vida da maioria das pessoas, seus empregos e dificuldades financeiras.
“A lógica de cobranças cada vez mais altas do trabalhador e a ausência total de limites provocam muito sofrimento”, reflete Danúbia, colocando na conta outros fatores, como a pressão que vem das redes sociais e de viver em uma cidade com altos índices de violência como Salvador.
“Vivemos no ritmo das redes sociais, onde se exige resposta imediata e não há tempo para se processar as informações e estímulos. Estamos perdendo esta capacidade”, diz Danúbia, acrescentando que os profissionais da área já esperavam que após a pandemia da Covid - que elevou os níveis de depressão e ansiedade - a próxima pandemia seria a da saúde mental. “Precisamos falar sobre este assunto, externalizar e pedir ajuda”, aconselha.
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