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Megaoperação contra o PCC dificulta ainda mais a venda do Banco Master para o BRB

Fontes do mercado financeiro apontam receio de diretores do BC em autorizar o negócio por conta das ligações com a Reag, uma das fintechs investigadas por suspeitas de lavar dinheiro para a organização criminosa.

02/09/2025 07h41
Por: Karoliny Dias Fonte: Metro1
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A negociação que envolve a tentativa de compra do Banco Master pelo Banco Regional de Brasília (BRB) já era uma barafunda antes, mas com a megaoperação da Receita Federal contra a caixa-forte do Primeiro Comando da Capital (PCC) a transação dificilmente será autorizada pelo Banco Central, apostam fontes do mercado financeiro com trânsito livre junto à diretoria colegiada do BC. Isso porque uma das fintechs investigadas na Operação Carbono Oculto por suspeita de lavar dinheiro para a maior organização criminosa do país, a Reag Investimentos, tem participação societária em uma subsidiária do Master, o Will Bank, que faz parte da lista de ativos oferecidos ao BRB, instituição que pertence ao governo do Distrito Federal. O Master, que adquiriu a Cesta do Povo e o Credicesta, opera contratos de empréstimos consignados para servidores do governo da Bahia e da prefeitura de Salvador. 

Fio da suspeita

De acordo com a Receita e o Ministério Público de São Paulo, a Reag está entre as fintechs mais utilizadas para adquirir usinas de etanol, ocultar bens, lavar dinheiro e promover a blindagem patrimonial de integrantes do PCC, através de operações tocadas Mohamad Hussein Mourad, o "Primo", e Roberto Augusto Leme da Silva, o "Beto Louco". Ambos são apontados por investigadores da Carbono Oculto como os principais responsáveis pela teia de fraudes fiscais e contábeis que movimentaram cerca de R$ 52 bilhões em recursos originados de atividades criminosas, por meio de diversos braços da Reag e fundos de investimento ligados a ela.

Mudança de cenário

"Até então, a cúpula do BC estava dividida, com parte da diretoria favorável ao negócio e outra contrária à compra do Master pelo BRB. Mas as suspeitas sobre a Reag colocaram um dedo podre no negócio, que já cheirava muito mal desde o princípio, sobretudo, pela desconfiança de que o BRB acabaria comprando gato por lebre, devido às distorções encontradas na relação de ativos oferecidos pelo Master. Agora, o cenário mudou. O que estamos vendo é um número menor de diretores dispostos a colocar as digitais para liberar o acordo", confidenciou um executivo que atua como consultor para Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entidade que reúne instituições financeiras tradicionais.

Causa e efeito

"Embora a diretoria colegiada do BC tenha um grau considerável de autonomia, ela é bastante sensível aos componentes políticos. Nesse caso específico, o governo federal, mais precisamente o presidente Lula e o ministro da Fazenda (Fernando Haddad), colhe os louros da ofensiva gigantesca contra o PCC e, com certeza, não quer ver nenhuma mancha na operação, ainda mais com os dedos de um órgão governamental. O que pode ocorrer caso o Banco Central autorize a transação entre o Master e o BRB, estando a Reag no radar da investigação", emendou outra fonte influente do mercado financeiro.

Banco Imobiliário

Indícios coletados pela Carbono Oculto apontam a suposta ação da Reag para inflar de modo artificial o patrimônio imobiliário do Master. Parte dos bens sob suspeita foi declarada no balanço de ativos divulgado recentemente pelo banco. Entre os imóveis da lista, está um terreno situado em Santa Cruz Cabrália, cidade vizinha a Porto Seguro, dado como garantia para um empréstimo de R$ 356 milhões concedido pelo Master à Griffood, empresa paulista de alimentos congelados. O problema é que a área de 541 mil metros quadrados, localizada na periferia do município da Costa do Descobrimento e distante do litoral, tinha sido adquirida por R$ 500 mil em 2022, mas foi avaliada pelo banco por R$ 100 milhões cerca de um ano depois.

Recordar é viver

A própria diretoria do BC já havia detectado uma série de inconsistências entre as cifras referentes à avaliação de imóveis do banco e a soma registrada em cartório. Conforme noticiou a Metropolítica no último dia 11, a desconfiança da área técnica do BC sobre a veracidade dos valores do patrimônio imobiliário do Master travou a análise do processo de compra da instituição pelo BRB. 

Fala, Reag!

Em fato relevante divulgado na quinta-feira passada (28) no rastro da operação contra o PCC, a Reag divulgou fato relevante ao mercado, no qual confirmou o cumprimento de mandados de busca e apreensão em sedes da Fintech, incluindo na incensada  Avenida Faria Lima, centro financeiro da capital paulista. No entanto, garantiu que os fundos de investimentos mencionados pela Carbono Oculto nunca estiveram sob sua administração ou gestão, disse que atuou apenas como prestadora de serviço e informou ter agido de "forma regular e diligente". 

Fala, Master!

Em comunicado à imprensa, o Master afirmou que incluir a instituição "em reportagens sobre um tema que nada tem relação com o banco contribui para gerar desinformação e tem o objetivo de provocar instabilidade para a instituição e para o mercado", e que a "divulgação de informações imprecisas envolvendo instituições financeiras é prática grave e pode configurar crime, conforme previsto na legislação vigente". "O Banco Master é apenas um entre centenas de clientes da Reag, que é uma das maiores do país, não tendo qualquer participação na sua gestão, estrutura societária ou decisões internas", concluiu.

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