A postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contrária a medidas inicialmente indicadas pelo Ministério da Saúde, e as interferências feitas por ele na pasta foram fatores que levaram o país a tirar de foco o distanciamento social e chegar a cerca de 100 mil mortes pela Covid-19. A avaliação é do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que deixou o cargo em abril.
Para Mandetta, o alto número de pessoas na economia informal e a pressão causada pelas eleições municipais também pesaram para uma adesão menor ao isolamento.
Na visão do ex-ministro, o governo também "abriu mão da ciência" e das ações para controle e "ficou em um debate menor, que é a cloroquina".
Mandetta, que estava à frente do ministério no início da estruturação de medidas contra a Covid-19, afirma ter alertado o Planalto sobre projeções que superavam inclusive o número atual de óbitos.
À Folha de S.Paulo, no início de julho, Wanderson Oliveira afirmou que a pasta já tinha alertado o governo após um estudo feito com a Opas (Organização Pan-americana de Saúde) sobre a possibilidade de o país chegar a 100 mil mortes.
Questionado sobre medidas para evitar esse cenário, Mandetta diz que a estratégia inicial da pasta previa investir no monitoramento de pacientes por meio da atenção básica e de telemedicina, além de ampliar a oferta de testes e respiradores em UTIs. Em relação à atual gestão da pasta, o ex-ministro diz não ter visto gestão.
Para Mandetta, o país tem seguido previsões iniciais feitas pela pasta, que apontavam "semanas duras" até o fim de agosto, com chance de queda nos meses seguintes. Ele atribui o cenário, no entanto, à falta de uma adesão maior a medidas como o distanciamento social.
O cenário poderia ser pior, afirma, caso o país tivesse seguido recomendações do presidente, que previa que estados não adeririam a políticas de distanciamento social.
Atualmente, Mandetta finaliza livro que narra sua jornada no Ministério da Saúde desde o dia em que a China reconheceu o novo coronavírus até sua saída do cargo.
Já o ex-ministro da Justiça, que deixou o governo em abril deste ano acusando o presidente Jair Bolsonaro de interferir na Polícia Federal, Sérgio Moro usou as redes sociais para lamentar as 100 mil mortes pelo novo coronavírus no Brasil e aproveitou para alfinetar o antigo aliado.
“Não podemos nos conformar, nem apenas dizer #CemMilEdaí. São mais de 100 mil mortos; 100 mil famílias que perderam entes para a Covid. Que a ciência nos aponte caminhos e que a fé nos dê esperança”, escreveu Moro, referindo-se a falas emblemáticas de Bolsonaro, durante a crise da pandemia.
O presidente, que chegou a classificar o novo coronavírus como “gripezinha”, teve uma resposta inusitada ao ser interpelado por jornalistas quando o Brasil ultrapassou 2500 mortes. “Eu não sou coveiro, tá certo?", disse.
Pouco tempo depois, quando o país registrava 5 mil óbitos, ele mais uma vez fez declarações questionáveis: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?’”, retrucou. “Sou Messias, mas não faço milagre”, completou o chefe do executivo, que defende o uso da cloroquina como tratamento para a Covid-19, mesmo contrário à comunidade científica, que atestou a ineficácia da droga para este fim.
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