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Censo 2022: IBGE revela dados das línguas originárias na Bahia

Levantamento revela que apenas 3,3% dos povos que se declaram indígenas falam sua língua originária no estado.

25/10/2025 07h47
Por: Karoliny Dias Fonte: A Tarde
Cena do filme 'Ama mba’é Taba Ama', dirigido por Nádia Akawã Tupinambá - Foto: Divulgação
Cena do filme 'Ama mba’é Taba Ama', dirigido por Nádia Akawã Tupinambá - Foto: Divulgação

Apenas 3,3%, ou 7.489, dos indígenas baianos utilizam uma língua indígena em casa, conforme dados do Censo de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa é a realidade da língua kipeá utilizada pelo povo Kiriri, conforme Sebastião Kiriri, o cacique do grupo.

“Hoje na comunidade a gente conta nos dedos as pessoas que ainda conseguem falar o kipeá”, diz. A proporção de indígenas que utiliza uma língua originária em seu domicílio caiu em comparação com 2010, quando era de 4,0%; é a 5ª menor entre os estados brasileiros.

O cacique conta que as línguas originárias foram profundamente afetadas pela colonização no Brasil e as consequências seguem presentes no desafio de manter essas línguas vivas.

“Lembro que meu pai contava histórias pra gente que nossos avós eram proibidos de falar a língua deles. Com isso foi se perdendo com o tempo aquela língua que é do nosso povo. Não por escolha, mas devido a forte repressão”, comenta Sebastião Kiriri.

Ainda que o número de falantes das línguas originárias na Bahia seja menor que a média registrada no país, de 29,2%, a realidade é que o número de falantes dessas línguas triplicou no estado. Entre os Censos de 2010 e 2022, esse número passou de 2.437 para 7.498, um crescimento de 207%. Porém a participação desse grupo no total de indígenas teve leve queda de 4,0% para 3,3%.

Resgate pela escola

As escolas voltadas para os povos indígenas, que incluem além do conteúdo comum, uma educação direcionada para essas populações, têm apresentado resultados e são a aposta para manutenção da comunicação originária. “Hoje a gente tem matérias dentro da grade escolar de língua indígena, que tem tido um efeito muito positivo. Estamos brigando para manter nossa língua ainda viva”, diz o cacique Kiriri. “A língua é ferramenta essencial para a gente se distinguir como povo Kiriri. Acho que é o nosso maior legado”, reforça.

A supervisora de disseminação de informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros, aponta que os dados mostram que há uma relação entre o uso de línguas originárias e se essas populações vivem em terras indígenas, urbanas ou rurais. “Em todo o país a proporção de declaração da língua é muito menor nas áreas urbanas do que nas terras indígenas ou mesmo fora das terras indígenas, mas em áreas rurais”, comenta.

Declaração de etnia

Outros dados do IBGE que chamam atenção indicam que apenas 4 em cada 10 indígenas (38,5%) declaram sua etnia - também a 5ª menor quantidade entre os estados. De 2010 para 2022, o número de pessoas que se declararam indígenas quase triplicou, passando de 32.273 para 88.417. Porém, a participação dos que identificaram sua etnia entre o total de indígenas caiu de 52,9% para 38,5%. O total de pessoas indígenas cresceu bem mais do que o número que declarou o seu povo.

Os que moram em terras indígenas reconhecidas, em sua maioria declararam sua etnia, ao todo 99,4% ou 17.116, porém essa não é a realidade da maior parte dos indígenas no estado. Cerca de 92,5% dessa população está concentrada fora de terras indígenas (92,5%), principalmente em áreas urbanas (78,5%). A defensora pública da Bahia, coordenadora do Núcleo de Igualdade Étnica da Defensoria Pública da Bahia e indígena, Aléssia Tuxá, ressalta que é preciso fazer considerações ao analisar os dados do IBGE.

“Eles tratam da área formalmente considerada como terras indígenas. Na Bahia, temos uma situação peculiar que temos terras indígenas aguardando há quase duas décadas a finalização do processo de demarcação. Isso é um dos fatores que pode justificar esse número (de indígenas fora de terras indígenas”, explica. Ela aponta também que a não formalização desses territórios impede o acesso dessas populações a políticas públicas de educação, saúde, sustentabilidade, o que leva muitas vezes essas essas pessoas a sair em busca de outras condições.

“Na Bahia temos uma situação de morosidade na formalização dessas terras que não se justifica. Poderia até dizer que temos muitos povos indígenas em seus territórios ancestrais, mas que são considerados fora da terra indígena”, comenta Aléssia. A Bahia possui a 2ª maior população indígena no Brasil, conforme os dados do IBGE.

Os números também indicam que a diversidade de etnias indígenas no estado cresceu, saindo de 165 em 2010 para 233 em 2022. É o 2º maior aumento absoluto no Brasil, empatado com Goiás e atrás apenas do estado do Amazonas. O estado conta ainda com as maiores populações nacionais de Pataxó Hã-Hã-Hãe (7.033 indígenas), Kiriri (5.189), Tumbalalá (3.774), Pankararé (2.520), Tuxá (2.494) e Kaimbé (1.771).

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