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Unidade baiana de prevenção do suicídio é referência nacional

Neps acompanha pacientes que têm pensamentos suicidas ou já atentaram contra a própria vida.

12/09/2023 08h03
Por: Karoliny Dias Fonte: A Tarde
A paciente Quele Amorim que, há dez anos, é acompanhada pelos especialistas do núcleo - Foto: Leonardo Rattes | Ascom Sesab
A paciente Quele Amorim que, há dez anos, é acompanhada pelos especialistas do núcleo - Foto: Leonardo Rattes | Ascom Sesab

Somente este ano, de acordo com dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), a Bahia já perdeu 459 pessoas vítimas de suicídio. Em 2022, o número chegou a 849, 21% a mais que em 2019, ano anterior ao início da pandemia de Covid-19, quando foram registradas 701 vítimas. Um dos serviços que trabalham para reduzir esses índices é o Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio (Neps). Unidade da Sesab, o núcleo é referência nacional no acompanhamento de pacientes que tentaram o suicídio. Apenas até julho deste ano, foram registradas 153 internações por tentativa de suicídio no Estado.

Composto por uma equipe multiprofissional de assistência, formada por psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais, o Neps atende a pacientes como Quele Amorim. A estudante de serviço social conta que há dez anos é acompanhada pelos especialistas do núcleo. “Faço acompanhamento psiquiátrico, terapeuta ocupacional e participo de grupos de oficina de informação e ciranda literária”, afirma.

Quele lembra que crises de ansiedade a levaram a ter pensamentos suicidas. “Comecei a ter crises de ansiedade muito fortes e sensação de formigas andando na minha cabeça, por causa do nível de estresse muito elevado”, relata. “As ideações suicidas surgiram, foi o que me levou a procurar atendimento no Neps, por saber que é um lugar especializado para pessoas que tentam ou têm pensamento suicida.”

A psicóloga Soraya Carvalho, coordenadora do Neps, aponta que atualmente cerca de 250 pacientes estão sendo acompanhados pelo núcleo. “Para ser atendido, é necessário passar por uma triagem”, explica. “O agendamento é feito por telefone, pelo (71) 3103-4343.”

Atividades

Além dos acompanhamentos considerados mais tradicionais, como consultas com especialistas, no Neps são desenvolvidas atividades que auxiliam no tratamento. Há, por exemplo, oficinas, grupos de leitura e o Cinema do Neps (Cineps). Segundo Soraya, as atividades ajudam na socialização e simbolizam o esforço conjunto dos profissionais e dos pacientes do Neps por um objetivo comum. “O intuito é poder criar momentos de socialização, fazendo com que os pacientes tenham integração”, conta a psicóloga.

Quele Amorim ressalta que o acompanhamento no Neps mudou sua vida. “Hoje, consigo afirmar que finalizar a minha vida não é a solução”, afirma. “Estou no oitavo semestre do curso de Serviço Social, me formo em dezembro. Também dou aulas de karatê normalmente.”

A equipe do Neps também realiza capacitações para profissionais da saúde e da atenção básica, com a finalidade de instrumentalizá-los tecnicamente para a intervenção junto aos pacientes acompanhados nas unidades.

Segundo Soraya Carvalho, as capacitações têm como principal objetivo oferecer informações teóricas e práticas sobre o suicídio e discutir manejos técnicos do paciente em risco de suicídio nas diversas áreas da assistência: psicologia, psiquiatria, terapia ocupacional, enfermagem, serviço social, entre outras. O intuito é capacitar os profissionais da saúde a desenvolverem uma abordagem com esses pacientes, “baseada em valores técnicos e éticos, livre dos tabus e preconceitos que envolvem a temática do suicídio em nossa sociedade”.

Grave problema

A Organização Mundial de Saúde (OMS) refere-se ao suicídio como um grave problema de saúde pública mundial. A instituição estima que a cada 40 segundos uma pessoa se suicide no mundo. A OMS também afirma que o suicídio tem prevenção em 90% dos casos.

E a prevenção, de acordo com Soraya Carvalho, passa por políticas públicas que devem incluir, entre outras iniciativas, campanhas ao longo de todo o ano. A psicóloga aponta ainda que as pessoas mais próximas podem se atentar a sinais como falas com pensamentos suicidas. “Muitas vezes a pessoa só precisa ter alguém para escutá-la.”

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