“Minha Vida, Minhas Histórias”. Esse é o titulo do primeiro livro de Gil Santos. Empregada doméstica durante décadas e agora escritora, Gil reúne histórias reais em sua primeira obra. Ela tem 60 anos e também atua em projetos sociais. Atualmente, se divide entre missões no estado do Rio e no nordeste brasileiro.
Gil começou a trabalhar de doméstica aos 16 anos e por questões de saúde deixou de trabalhar aos 57 anos. “Hoje vejo que se não tivesse acontecido tudo que aconteceu comigo naquele momento talvez não tivesse escrito o livro. Comecei a escrever como um exercício terapêutico”, disse.
Ela conta que, após seu pai adoecer, precisou procurar um terapeuta. Essa terapeuta passou alguns exercícios e assim ela começou a colocar tudo o que sentia no papel. “Eu consegui me recuperar vendo o filme “Histórias Cruzadas”. Vendo-o, percebi que a história daquelas mulheres é bem parecida com a nossa, brasileiras. Assim comecei a colocar a minha história no papel”.
Contando a sua história de vida, Gil lembra que com ela eram três filhos e onde eles moravam não havia escola pública, apenas uma escola particular. Para estudar, ela precisaria ser bolsista, mas sua família não teria condições de sustentar todos na escola. “Minha mãe me disse que nós não tínhamos condições de manter os três filhos em uma escola. Então tomei a decisão de ir trabalhar para ajuda-los”.
Patrões
Gil falou ainda sobre os patrões que criam a ilusão de que a empregada doméstica faz parte da família. Em seu livro ela diz que esse é um falso pensamento. “Se sua família, quando quebra alguma coisa, você vai mandar embora? Não vai. Quando o pai e sua mão envelhecem, o patrão vai cuidar deles. Com uma empregada doméstica, ele diz que sente muito e manda ela se cuidar. Com uma pessoa da família, você não pede para ela esperar você terminar de comer. Então não, você não é da família. É um empregado como em uma empresa, está ali para prestar serviços e ponto”, disse.
Como empregada doméstica, Gil destaca que nunca fez o seu trabalho de qualquer maneira. Sempre fez o seu melhor. Mas isso não impediu de que ela fosse assediada por um patrão. “Eu já sentia que ele sempre me vigiava. Certo dia a patroa viajou e isso se intensificou. Nesse dia, eu me tranquei no quarto dos fundos para dormir e ele passou a noite inteira tentando abrir a porta do quarto. Quando amanheceu o dia fui embora e um tempo depois fui dispensada”.
A escritora lembra que há anos atrás “os senhores”, como chama os patrões, poderiam abusar das mulheres e hoje isso não é diferente. “Vemos isso inclusive em grandes empresas. O patrão se aproveitando da questão de que mulheres precisam cuidar de tudo para evitar reclamações futuras. Com a empregada doméstica não é diferente. Precisei tomar conta de crianças e me deparei com avós se encostando em mim por trás”.
Ela continua trabalhando uma vez por semana porque ainda não conseguiu se aposentar. Com a Reforma Previdenciária ela precisou esperar mais um pouco e só vai conseguir se aposentar esse ano.
Mulheres venezuelanas
Gil conta que foi gravar um podcast com o presidente de uma empresa e contou que como missionária fez uma viagem a Venezuela. Nessa entrevista, ela colocou que colocaria parte dos lucros da venda do seu livro para o projeto “A Fome no Mundo, Há Esperança para os Refugiados”. “Quando estava falando sobre esse assunto, esse presidente contou que existem refugiados perto de onde eu moro. Mas quando se fala sobre isso, não adianta só falar. Tem que agir. Em outubro eu estava fazendo um trabalho sobre o Outubro Rosa e encontrei mulheres venezuelanas. Me coloquei para ajudar no que fosse preciso e procurar ajuda”.
Gil criou um vínculo com as venezuelanas refugiadas e as ajudou no que pode. “Fizemos um momento da beleza com ela, fizemos alguma coisa no Natal, conseguimos apadrinhamento das crianças dessas mulheres”, afirma.
Livro
O livro de Gil está à venda na loja Magazine Luíza e como ebook no Amazon. Parte das vendas dos livros serão enviados para o projeto que ela apoia. “Deus tocou no meu coração e vou continuar ajudando”.
A mensagem que quer transmitir em seu livro é que as mulheres não deixem de lutar por seus direitos. São seis milhões de empregadas domésticas no Brasil que sustentam suas famílias. “Que elas não permitam que, por serem empregadas domésticas, se sintam menores ou com menos valor do que qualquer outra pessoa. Nada sobre as nossas vidas tem sido fácil, mas nada pode nos deixar para baixo porque sabemos muito sobre o hoje e também conhecemos o ontem”, finalizou.
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