O impacto da tarifa adicional de 40% sobre o Brasil que, adicionada aos 10% já anunciados em abril, atinge os 50%, imposta pelo governo de Donald Trump, vai impactar a economia baiana. Não de forma generalizada, mas de forma localizada, afetando setores específicos. No global, as exportações baianas para os Estados Unidos foram de cerca de US$ 880 milhões em 2024, o que representa 7,5% do total.
Atualmente, mais de 40% das vendas externas da Bahia têm a Ásia como destino, sendo que quase 30% vão para a China e, portanto, o impacto é pequeno, especialmente porque, entre as exceções listadas, estão a celulose e os derivados de petróleo, dois entre os três maiores itens da pauta de exportação. Mas alguns segmentos serão fortemente afetados. As listas de exceções atingiram apenas 33% dos produtos que a Bahia exporta para os EUA, e produtos como café;, cacau e frutas, com vendas expressivas para os EUA, não foram contemplados. Mas o impacto será diferenciado.
Os derivados de cacau – especialmente a manteiga de cacau –, que representam cerca de 15% das exportações, serão impactados, e isso atinge uma cadeia do agronegócio que envolve mais de 40 mil trabalhadores e 17 municípios. Mas eles estão com alta demanda global e preços elevados, não sendo difícil encontrar novos compradores. O mesmo se pode afirmar com relação ao café, mas, no caso da fruticultura, com destaque para a manga produzida no Vale do São Francisco, a situação é grave. Cerca de 30% da manga do Vale do São Francisco é destinada aos Estados Unidos, e, caso o produto não seja incluído nas listas de exceções, haverá perdas significativas.
O setor industrial baiano é o que mais vai sofrer, e a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) estima em US$ 491,3 milhões de produtos baianos, aqueles que estão sujeitos à taxação, o que afetaria cerca de 270 produtos industriais. Haverá forte impacto nos produtos petroquímicos, que representam 23,5% das exportações para o mercado americano, e na produção de pneus, que participa com quase 12%. Aliás, as três fábricas de pneus terão tarifa de 25%, metade da que será aplicada a outros produtos, mas o setor enfrenta uma forte concorrência da importação de produtos asiáticos no mercado interno e o mercado americano era uma alternativa de ampliação das vendas. Empresas produtoras de ferroligas, fertilizantes, minerais, metalurgia, conservas e sucos, massas, bolachas e biscoitos, couro e calçados, fumo e outras também foram atingidas.
Já no caso da indústria química, o mercado norte-americano é um importante destino para produtos petroquímicos básicos, intermediários, e para plastificantes, resinas e fibras.
Aliás, a indústria petroquímica brasileira, incluindo o Complexo Petroquímico de Camaçari, que já enfrenta uma crise de excesso de oferta no mercado internacional, será fortemente afetada. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), 82% das exportações brasileiras de produtos químicos para os EUA, que somaram US$ 2,4 bilhões em 2024, e estão concentradas em 50 produtos – abrangendo petroquímicos básicos, intermediários orgânicos e resinas termoplásticas – serão impactadas.
Outros segmentos, caracterizados pelas indústrias de pequeno porte, também vão sofrer redução nas vendas, já que a tarifa de 50% tornará quase impossível competir com outros fornecedores.
O governo federal e estadual, bem como o setor privado, estão se mobilizando para evitar uma crise que resulte em ociosidade e desemprego. A redução das alíquotas e a inclusão de mais setores nas exceções são os caminhos junto ao parceiro norte-americano, mas internamente também será necessário adotar medidas de apoio aos setores mais atingidos.
Os setores baianos afetados pelo tarifaço de Trump têm de se inserir nos programas de apoio do governo federal. Além do apoio para que produtores busquem novos mercados, o governo pretende oferecer crédito subsidiado. Também estão previstas compras governamentais, como a compra pública de alimentos para merenda escolar e outros, e o estabelecimento de programas temporários de renúncia fiscal. A indústria petroquímica pode se beneficiar. Há também um projeto de lei que mitiga os efeitos da crise na petroquímica, o Presiq – Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química, que vou comentar posteriormente. Não resolve o tarifaço, mas ajuda o setor.
Beirou ao descaso as declarações do vice-presidente da Vale, Marcelo Bacci, sobre a possibilidade de a mineradora Vale entrar no projeto da Bamin Mineração. Sem apresentar números, o executivo afirmou peremptoriamente que a mina da Bamin não tem ferro suficiente para justificar o investimento na Fiol 1, o trecho inicial da Ferrovia Oeste-Leste, incluído no projeto. Bacci disse sem provas que o projeto não para em pé e que é preciso buscar alternativas para o aumento do volume de carga na ferrovia. E disse: “A Vale é uma empresa de mineração, nós não somos uma empresa logística”. Alguém precisa apresentar a ele as ferrovias e serviços portuários da Vale.
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