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Opinião: Governo escalona reajustes ao funcionalismo pensando na reeleição de Jerônimo

Via reajustes salariais escalonados, Jerônimo fez acenos claros que pretende manter o funcionalismo ao lado dele para o próximo pleito. Só que, do ponto de vista de marketing, a divisão dos aumentos em parcelas ficou em segundo plano.

28/04/2025 08h49
Por: Karoliny Dias Fonte: Bahia Notícias
Fotos: Wuiga Rubini/GOVBA
Fotos: Wuiga Rubini/GOVBA

Há quem diga que as eleições de 2026 estão longe. Mas pela mobilização dos políticos, parece que a disputa começou há bastante tempo. Nesse xadrez, o governo Jerônimo Rodrigues jogou duas peças relevantes na última semana: agrados às forças de segurança e a profissionais da área de saúde. Via reajustes salariais escalonados, Jerônimo fez acenos claros que pretende manter o funcionalismo ao lado dele para o próximo pleito. Só que, do ponto de vista de marketing, a divisão dos aumentos em parcelas ficou em segundo plano.

Sem entrar no mérito dos percentuais de reajuste — até porque sindicatos e associações que representam os trabalhadores têm mais propriedades para falar do tema —, é relevante trazer o tom político de adotar essa postura com tanta antecedência. Anos eleitorais têm restrições diversas para reajustes e, qualquer mobilização próxima à disputa, gera críticas, especialmente da oposição, sobre apropriação da máquina estadual para fazer campanha. Ao fazer um ano antes, Jerônimo elimina as chances de questionamentos jurídicos ou de munir adversários de um padrão crítico comum no período eleitoral.

Tal estratégia de escalonamento de reajuste já tinha sido testada com profissionais de educação. Todavia, como há reajuste anual do governo federal do piso do magistério, em 2026 esse tema voltará, mas sem o vigor necessário. Em 2025, o governo se antecipou, então, ao chegar no próximo ano, o argumento de que os profissionais já foram contemplados. É tudo uma questão discursiva, algo que a esquerda, inclusive, consegue habilmente controlar, especialmente com o uso de sindicatos — a APLB, por exemplo, é controlada há alguns bons anos pelo PCdoB e Rui Oliveira.

Com profissionais da educação, segurança pública e saúde “domados” com esses reajustes escalonados, as chances de vitória numa campanha de reeleição aumentam, dado o peso do funcionalismo público entre eleitores — além deles, as famílias são preponderantemente influenciadas nesse processo. É uma aposta de longo prazo do entorno de Jerônimo, especialmente em um contexto que tais categorias tendem a ser “gratas” quando são beneficiadas por ações de quem está no poder. Entretanto, não deixa de ser uma aposta.

A mesma antecedência pode causar problemas para manter vívida na mente dos eleitores que houve esse investimento. E, por mais que o percentual pareça alto quando avaliados conjuntamente, em 2026, esse número não será tão atrativo assim no holerite das categorias. Fora que, do ponto de vista de reforço de marketing, é preciso fazer um esforço grande para convencer os servidores que esse reajuste anunciado antecipadamente foi benéfico no final das contas. Ou seja, é preciso gastar em outras frentes, especialmente na comunicação.

Enquanto isso, a oposição, fragilizada pelo número quase ínfimo na Assembleia Legislativa da Bahia, não tem forças para tentar, ao menos, forçar um debate que explicite que se trata de um processo político-eleitoral disfarçado. No máximo, conseguiria se apropriar da causa do funcionalismo temporariamente, para ganhar alguns poucos pontos com as categorias, tradicionalmente próximas da esquerda (com exceção das associações policiais, que, por vezes, foram atraídas pelo discurso da extrema-direita brasileira). E, tal qual Jerônimo, é uma loteria saber se o feitiço não se volta contra o feiticeiro.

Uma coisa é certa: o governo “não dá ponto sem nó” ao construir, de agora, a narrativa de valorização do funcionalismo público. Bobo é quem não percebe a estratégia eleitoral por trás disso. E isso vai acontecer com muita gente daqui até as urnas no próximo ano.

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