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Mensagens mostram médicos defendendo fim de lockdown para lucrar com UTIs lotadas

‘Se o lockdown não acabar vai ser muito difícil manter a UTI cheia hein cara’, disse médico e empresário em mensagem obtida pela polícia

13/06/2023 13h41
Por: Boca de Forno Fonte: Bahia.ba
Foto: Mufid Majnun/Unsplash
Foto: Mufid Majnun/Unsplash

 

 

Investigações da Polícia Civil do Mato Grosso mostram que médicos e empresários da área de saúde defenderam o fim do lockdown para lucrar com Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) lotadas na pandemia da Covid-19. A informação consta no inquérito sigiloso da segunda fase da Operação Espelho, ao qual o The Intercept Brasil teve acesso.

Em uma conversa com o médico Gustavo Ivoglo, em 2021, o médico e empresário Renes Filho, cuja empresa fornecia UTIs para hospitais públicos no município de Alta Floresta (MT), revelou ter indicado internação sem necessidade, diante da falta de doentes em virtude do isolamento social.

“Se o lockdown não acabar vai ser muito difícil manter a UTI cheia hein cara. Tá subindo uns pacientes lá que já já o pessoal vai questionar a gente do que esses pacientes estão fazendo lá [risadas]”, disse ele. “Ta dando um trabalho do cão pra deixar esses leitos ocupados, precisa ver o rolo que eu faço todo dia aqui, mas tá rolando com 100% de ocupação”, acrescentou, informando ainda que a equipe “aceita paciente sem muito prognóstico, pois infelizmente a gente precisa ter uma ocupação maior”.

Segundo o site, o inquérito da Polícia Civil aponta para a formação de um suposto cartel para fraudar licitações, desviar verba pública e fazer pagamentos indevidos a servidores públicos. São investigadas dez pessoas e oito empresas que teriam participado do esquema de corrupção que lucrava com contratos de UTIs a partir de 2019.

Até o momento foram bloqueados bens de uma série de investigados por enriquecimento ilícito, dentre eles Marcelo Alécio da Costa, Rony de Abreu Munhoz, Luiz Gustavo Castilho Ivoglo, Euller Gustavo Pompeu de Barros Gonçalves Preza, Alberto Pires de Almeida, Osmar Gabriel Chemin, Renes Leão Silva Filho, Bruno Castro de Melo, Daoud Mohd Khamis Jaber Abdallah, Gabriel Naves Torres Borges e Catherine Roberta Castro da Silva Batista Morante.

Também foram investigadas as empresas L.B. Serviços Médicos LTDA. (atualmente sob o nome de LGI Médicos LTDA), Intensive Care Serviços Médicos LTDA., Sugery MT, Bone Medicina Especializada, Curat Serviços Médicos Especializados LTDA., Samir Yoshio Matsumoto Bissi Eireli-ME e Medtrauma Centro Especializado em Ortopedia e Traumatologia LTDA.

Segundo o jornal, as investigações aponta quem os envolvidos acumularam até R$ 33 milhões em patrimônio, incluindo duas fazendas adquiridas pelo empresário Osmar Gabriel Chemin, sócio da Bone Medicina Especializada, em Cáceres (MT), avaliadas em R$ 15 milhões e R$ 8,7 milhões.

Ainda de acordo com a publicação, o cartel nasceu em Alta Floresta, onde as empresas em torno da L.B. Serviços Médicos eram rivais das empresas do grupo da Bone Medicina Especializada. Com uma população estimada de 52 mil pessoas, a cidade registrou 18 mil casos de Covid-19, segundo dados do Ministério da Saúde.

Em 2021, no momento em que os envolvidos no caso bolavam estratégias para conseguir contratos com o poder público, a cidade figurava entre os 16 municípios com risco mais alto para a Covid-19.

Segundo o The Intercept, a Bone, liderada pelos médicos Osmar Chemim e Alberto Pires de Almeida, ganharam um contrato em Alta Floresta, gerando “fúria” de Gustavo Ivoglo e Renes Leão Filho, que pretendiam denunciar mortes ocorridas nas UTIs dos concorrentes. As investigações apontam que eles cogitaram até oferecer R$ 10 mil mensais para a diretora do Hospital Regional de Alta Floresta prejudicar a nova empresa contratada.

“Oferece R$10 mil por mês cara. Fala: Renata, você entra com a gente porque esses caras são muito filho da puta e vão fazer tudo errado e vai foder vocês. A gente dá R$ 10.000,00 por mês pra você me ajudar. Só fazer o certo, entendeu!?”, orientou Luiz Gustavo Ivoglo em áudio.

Em seguida, ele sugeriu para Renes, pertencente ao mesmo grupo empresarial, assumir o hospital: “Renes assume a direção técnica. Pago a Renata com dinheiro p COVID. Pede p ela pedir afastamento. Kkkk”, disse Ivoglo em mensagem enviada na madrugada de 26 de março de 2021.

Dias depois, após reunião entre Osmar Chemim e Gustavo Ivoglo, os empresários firmaram acordo e a L.B. passou a administrar o Hospital de Alta Floresta, apesar da Bone ter vencido a licitação. Segundo a polícia, o cartel nasceu neste momento.

POLÍTICOS

Crítico ferrenho do lockdown, o governador Mauro Mendes (União Brasil) também chegou a ser citado em conversas dos empresários. “Até tive uma reunião com o governador, que é conhecido de um parente meu, e aí eu vou reunir amanhã de manhã aqui na secretaria, com a secretária adjunta. Eles estão querendo que a gente monte mais leitos né, por essa loucura né, tanto aqui quanto no interior. Aí eu vou ter que esperar essa reunião, porque a ideia era vender mesmo, mas agora, se for abrir isso aí né, nós vamos precisar também”, disse Ivoglo em uma mensagem.

Outros políticos mencionados pelos investigados foram os deputados estaduais Romoaldo Júnior, do MDB, e Ondanir Bortolini, do PSD, conhecido como “Nininho”.

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