Terça, 02 de Dezembro de 2025 20:25
75 98160-8722
Feira de Santana 20 de novembro

Dia Nacional da Consciência Negra e o Dia da Capoeira é comemorado na Câmara de Feira de Santana

Participaram da sessão solene o ex-deputado federal, estadual e professor, Luiz Alberto e o cantor, compositor e mestre capoeira, Tonho Matéria, palestrante da noite.

19/11/2021 12h31
Por: Karoliny Dias Fonte: Boca de Forno News
Dia Nacional da Consciência Negra e o Dia da Capoeira é comemorado na Câmara de Feira de Santana

Uma sessão solene comemorou, na noite desta quinta-feira (18), na Câmara de Vereadores de Feira de Santana, o Dia Nacional da Consciência Negra e o Dia da Capoeira. O evento, promovido anualmente pelo Odungê – Núcleo Cultural, Social e Educacional, que têm à frente a produtora cultural Lourdes Santana, foi uma iniciativa do vereador Petrônio Lima (Republicanos).

Participaram da sessão o ex-deputado federal, estadual e professor, Luiz Alberto e o cantor, compositor e mestre capoeira, Tonho Matéria, palestrante da noite.

O ex-deputado federal Luiz Alberto falou sobre o prazer de vir da cidade de Feira de Santana. “Foi um prazer participar de uma atividade ligada a luta negra e que é um dia qye significa muito que é o 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. Foi em Salvador, em 1978, que o movimento negro decretou politicamente esse dia. Essa é uma data muito cara para nós, negros e negras, que lutamos pela liberdade e pela democracia”, afirmou.

O professor parabenizou aos organizadores do evento por ajudar a fortalecer a luta e a militância negra. “Não existe democracia com racismo. No Brasil, essa experiência democrática sempre foi inconclusa e nós precisamos concluí-la. E o faremos se estabelecermos um processo que derrote essa chaga que é o racismo em nosso país”.

Para o ex-deputado, nos últimos quatro anos, há muito pouco a se comemorar. Luiz Alberto destacou que tem-se algumas questões conquistadas no Congresso Nacional para comemorar como  as leis que garantem os direitos das comunidades quilombolas. Conseguiu-se ainda criminalizar o racismo e uma legislação que garante uma política afirmativa de acesso as Universidades públicas, chamada Lei de Cotas. Conquistou-se também uma legislação que garante cotas no serviço público de âmbito federal e em alguns estados.

“São questões que até podemos comemorar, mas os últimos anos tem sido árduos por dois motivos: um por causa da pandemia, que atingiu nossa população mais pobre que vive em condições difíceis nas periferias, favelas e presídios. Por outro lado, a gravidade de termos eleito um presidente que tem destruído tudo aquilo que conquistou-se ao longo desse período no que diz respeito a direitos sociais. Infelizmente, de forma absurda, o presidente nega a ciência, nega o estrago que a pandemia fez não somente no Brasil como no mundo inteiro”, falou.

Luiz Alberto lembrou que no dia 20 de novembro, as manifestações, caminhadas e passeatas que ocorrem em todo o país em alusão a este dia, nesta ano todo o movimento negro se uniu para fazer deste dia um dia de “Fora Bolsonaro”. “Precisamos expressar a nossa indignação, o nosso repúdio a esse tipo de comportamento que tem levado a miséria muitas pessoas. Voltamos a um patamar de extrema pobreza. Pessoas se alimentando do que está no lixo e isso é muito grave”, lamentou.

Isso, ainda segundo Luiz Alberto, lhe deixa apreensivo. “Fico muito apreensivo diante do quadro político que vive o Brasil”, finalizou.

Palestrante da noite

O palestrante da noite, o cantor, compositor e mestre capoeira, Tonho Matéria, lembrou o seu amor por Feira de Santana e ressaltou que seu pai nasceu e se criou aqui. “Todos os meus irmãos nasceram em Feira de Santana. Só eu que nasci em Salvador. Vim participar desse encontro com uma proposta que fala sobre nós, pretos, e sobre nossas demandas, nossas conquistas e políticas públicas que podem ser avançadas”, afirmou.

Tonho disse que vê o dia 20 de novembro em 2021, mais um ano de pandemia, de muitas perdas. “Muitas famílias perderam seus entes queridos. Celebramos esse dia porque Zumbi dos Palmares foi um herói. Foi um homem da resistência, da luta e da continuidade do povo negro nessa sociedade que sempre nos coloca de lado. Nada é favorável ao povo preto”, lamentou.

O cantor ressaltou que não há emprego, os maiores cargos nunca estão do lado dos negros, isso tudo dentro de um processo não só humanitário, mas também político-partidário, nas questões sociais e até nas questões artísticas. “É importante que tenhamos essa reflexão e o 20 de novembro é para isso. Ele vem para dar um horizonte para se entender como negro. Como diz Vovô do Ilê: se você é negro, ascendeu na vida e acha que está acima de tudo, um dia alguém vai lhe lembrar que você é negro. Para que as pessoas não me lembrem quem eu sou, eu preciso lembrar primeiro e por isso participo desse ato trazendo as minhas reflexões enquanto homem negro do que eu fiz e do que eu preciso fazer para a nossa sociedade preta”, disse.

Mestre de Capoeira

Tonho também é mestre de capoeira. Ele afirmou que sempre diz aos seus alunos que ser mestre de capoeira não é ficar dentro da academia, dando ordens e fazendo os alunos jogarem as penas para todos os lados. “O mestre de capoeira precisa ser um construtor de seres humanos. Precisa tirar a capoeira da sua roda e trazer para a roda da vida. Fazer com que os alunos se transformem em referências na sua comunidade. Eles precisam ser maiores que seus mestres”, falou.

Para Tonho, o maior triunfo de ser mestre é quando ele vê quase 30 alunos dentro da universidade ou fazendo mestrado ou doutorado. “Aluno que já me passou. Isso é bacana. Fiz uma graduação e não fiz mestrado, mas tenho aluno que já fez mestrado e doutorado. Isso é importante. Aí eu me sinto realmente um grande mestre de capoeira porque eu consegui chegar no patamar que o aluno entendeu a possibilidade de sua intervenção na cultura, na educação, na área de saúde, em todo os campos”, explicou.

Tonho destacou ainda que o mestre de capoeira precisa estar preparado para a questão política. “Ele precisa dialogar. As políticas públicas estão sempre inseridas em tudo que o mestre de capoeira propõe em suas academias. Mas como ele vai transformar essa política em ação? Participando, discutindo em fóruns de discussões, de conselhos para ampliar cada vez mais o seu trabalho e a sua vontade de ações culturais e sociais na comunidade”.

Como mensagem, no dia 20 de novembro, Tonho deixa que se entender como negro não é ser submisso, é ter a percepção de que todo o lugar é o lugar onde o negro precisa estar. “Seja dentro de um condomínio fechado em uma casa com piscina, seja em um barraco. Qualquer espaço é o espaço do negro. Não há espaço exclusivo do negro. Ele precisa estar na universidade, nos melhores cargos políticos, nos melhores cargos das empresas, em todos os lugares”, finalizou.

Com informações do repórter Reginaldo Junior

Nenhum comentário
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.