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Bahia foi estado do Nordeste com maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 2024

Em todo o Brasil, esses e outros transtornos mentais justificaram mais de 470 mil afastamentos do trabalho. Número obtido com exclusividade pelo site é o maior desde 2014.

11/03/2025 08h37
Por: Karoliny Dias Fonte: g1 Bahia
Posto do INSS no bairro de Brotas, em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia
Posto do INSS no bairro de Brotas, em Salvador — Foto: Reprodução/TV Bahia

Reconhecida como um transtorno mental, a ansiedade provocou 4.517 afastamentos do mercado de trabalho da Bahia ao longo de 2024. Já a depressão foi o motivo de 3.313 licenças concedidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no mesmo período.

Os números são os maiores registrados em todo o Nordeste brasileiro e ocupam a oitava posição no levantamento nacional.

As informações são do Ministério da Previdência, obtidas com exclusividade pelo site. Em reportagem especial publicada nesta segunda-feira (10), o portal mostra que o país registrou 472.328 licenças médicas por esses e outros transtornos mentais. É o maior índice desde 2014, com um aumento de 68%, o que confirma o status de crise de saúde mental enfrentado no Brasil.

Na Bahia, as doenças que mais provocaram afastamentos foram as seguintes:

Afastamentos concedidos por transtornos mentais

Categoria CID

Doença

Nº de concessões

F41

Ansiedade

4.517

F32

Depressão

3.313

F33

Depressão recorrente

1.701

F31

Transtorno bipolar

1.494

F20

Esquizofrenia

998

F43

Reações ao "stress" grave e transtornos

575

F19

Vício em drogas

436

F23

Transtornos psicóticos

377

F25

Transtornos esquizoafetivos

333

F10

Alcoolismo

321

Fonte: Ministério da Previdência Social

Psicose (CID F29), transtorno de personalidade (F60) e vício em cocaína (F14), frequentes em outros estados, não apareceram entre os casos mais recorrentes nos postos de trabalho baianos. Vale ressaltar que os números se referem às licenças e não aos indivíduos, portanto um trabalhador pode ser contabilizado mais de uma vez caso tenha sido afastado em diferentes ocasiões.

A psicóloga Daiane Bispo observa esse problema no processo terapêutico de muitos dos seus pacientes. Para ela, isso mostra como a sobrecarga emocional e as condições de trabalho impactam o bem-estar dos indivíduos.

"Instabilidade econômica, precarização das relações de trabalho, aumento da carga horária, desigualdade social, condições de trabalho que geram altos níveis de estresse e a dificuldade de conciliar vida profissional e pessoal são fatores que contribuem diretamente para esse cenário, o que reforça a importância de políticas públicas voltadas para a promoção da saúde mental".

Em entrevista ao site, a profissional ressaltou ainda que são as mulheres as mais afetadas com esses transtornos, especialmente por conta da dupla ou tripla jornada de trabalho, somadas às pressões sociais e à desigualdade salarial.

Por outro lado, Daiane pontua que o maior número de afastamentos do trabalho reflete o crescimento no número de pessoas que buscam ajuda e tratamento. Na avaliação dela, isso representa um avanço na forma como a sociedade encara os problemas de origem psicossocial.

Raio-x nacional

- Psiquiatras e psicólogos ouvidos pelo site apontaram que o recorde de afastamentos no país está diretamente ligado à situação do mercado de trabalho — insegurança financeira e aumento da informalidade, por exemplo — e ao impacto da pandemia de Covid-19.

- Outro destaque é o perfil dos trabalhadores atendidos pelo INSS: 64% são mulheres e a idade média é de 41 anos. Elas costumam passar até três meses afastadas dos postos de trabalho, recebendo cerca de R$ 1,9 mil por mês.

- Fatores como menor remuneração, sobrecarga com o cuidado da família e a violência ajudam a entender por que a população feminina é a mais afetada por transtornos mentais.

Diante desse cenário, o governo federal atualizou a Norma Regulamentadora nº 1, que indica as diretrizes de saúde no ambiente do trabalho. A partir disso, o Ministério do Trabalho assumiu a responsabilidade de fiscalizar os "riscos psicossociais" no processo de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho.

Na prática, isso significa que empresas podem ser multadas, caso o poder público identifique problemas como metas excessivas, jornadas extensas, assédio moral e condições precárias de trabalho.

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